Vivemos momentos difíceis, todos nós sabemos. Muito sexo e pouco ou quase nenhuma intimidade. Sexo não é intimidade. Podemos viver felizes sem sexo; mas jamais conseguiremos felicidade sem intimidade.É pela intimidade que despertamos o crescimento e maturidade em nosso ser. Todos nós ansiamos por intimidade. Não é raro confundirmos a felicidade com a posse de bens materiais. Embora mesmo quando temos tudo que desejamos materialmente falando, fica quase sempre a sensação de que algo esta faltando. O que é: a intimidade.
A intimidade pode também ser melhor despertada através da espontaneidade que nos é impedida, muitas vezes, quando não compreendemos a necessidade da intimidade. A intimidade começa na relação íntima consigo mesmo: “Conheça-te a ti mesmo”.
Intimidade nada mais é do que a revelação de nós mesmos. O nosso maior medo de viver intimamente é porque temos medo de nós revelar. A intimidade exige que deixemos outra pessoa descobrir o que nos emociona, o que nos inspira, o que nos motiva, o que nos angustia, nossos desejos, sonhos, receios, falhas, erros, nossos sentimentos mais mesquinhos, nossas loucuras e maravilhas que habitam em nosso coração.
Nos revelar significa tirar as máscaras para nos mostrar por inteiro. O maior presente que podemos dar ou receber é feito através da intimidade de revelar nossas forças e fraquezas, erros e acertos, fracassos e sucessos, defeitos e talentos. Jesus disse: “Tudo será revelado”, Ele se referia a necessidade que um dia teríamos de compreender para alcançarmos a tal sonhada felicidade.
Em síntese, a intimidade é um compartilhamento completo e irrestrito do nosso “Eu” divino. Embora devamos também saber que nem todos os relacionamentos merecem uma intimidade tão completa, mas com certeza os nossos relacionamentos – com nossos parceiros – deveria merecer. Segundo Kelly intimidade é “o processo de revelação mútua que nos leva a nos entregarmos completamente a outra pessoa no mistério que chamamos de amor. Podemos amar sem sexo; mas jamais chegaremos a amar sem intimidade.
À medida que vamos compreendo e vivendo a intimidade, vamos construindo nossa história. À medida que vamos construindo nossa história, vamos nos libertando de nossa ignorância egoica para vivermos o nosso “eu” divino: nosso ser espiritual. Aqueles que se perdem negando a intimidade enlouquecem por não compreenderem e nem ligarem ao seu passado de forma estruturada. Perdem a referência que o passado proporciona no mapeamento de nosso futuro. Relacionamentos íntimos e confiantes nos ajudam a relembrar a nossa história que vão se perdendo em graus variados de pessoa para pessoa e compreendermos quem somos e de ode viemos.
Atualmente a maioria das pessoas está preocupada com o fazer sexo e se distanciando da intimidade, eis o motivo de tantos desequilíbrios psicoemocionais e violências de toda ordem. Quanto mais aprofundamos na intimidade, mas aproximamos do nosso ser espiritual e, consequentemente, afastamos do nosso humano animal.
Costumamos dizer que somos espelhos uns dos outros e intimidade vem nos provar isso, pois através da intimidade refletimos o nosso verdadeiro eu. É fácil criar para aqueles com quem convivemos esporadicamente uma imagem meio falsa ou parcial. A apreciação dessas pessoas eventuais pode nos levar a imagens mitificadas de nós mesmos, nas quais passamos a acreditar. Um exemplo que venho percebendo é a homossexualidade. A intimidade nos resgata desse mundo de faz-de-conta. Muitas vezes preferimos viver com nossas fantasias do que o mundo real. As pessoas com quem estabelecemos intimidade nos forçam a sair de nossos mundos imaginários e fornecem espelhos necessários para nos conhecermos. Muitos de nós vivemos escondidos de nós mesmos.
Em minha experiência profissional muitos pacientes viveram por anos sendo algo que nunca foram e suas vidas foram transformadas num verdadeiro inferno até que aos poucos o processo psicoterápico lhes deram a oportunidade de conhecer a si mesmo e despertar para uma nova vida. Uma realidade até então desconhecida. Um paciente viveu por quase trinta anos escondendo uma homossexualidade que nunca existiu; mas o medo das pessoas descobrirem que ele era o que nunca foi lhe permitiu desenvolver uma processo grave de depressão e síndrome do pânico. Utilizava de vários disfarces para esconder algo criado pela falta de intimidade consigo mesmo e com o mundo a sua volta. Quando mais se escondia, mais confirmava sua fantasia e ilusão de que era um homossexual.
Por isso dizemos que muitas coisas que, as vezes, abominamos no outro é parte nossa que não queremos enxergar. Da mesma forma quando sentir uma grande admiração pelo outro, reflita um pouco. A maioria das pessoas gosta de se considerar muito independente, como se ser dependente fosse uma fraqueza e uma vergonha. Quando na verdade sabemos que dependemos uns dos outros muitos mais do que imaginamos. Tanto nas relações individuais quanto entre nações, a interdependência e a mútua colaboração são as únicas formas de fazer a humanidade evoluir. O desejo exacerbado de independência é apenas uma de nossas ilusões que nos impedem de nos envolver profundamente nos relacionamentos.
Quanto mais fazemos sexo sem intimidade, mais afastamos de nós mesmos e dificultamos nossas relações interpessoais. O nosso maior medo de viver a intimidade é pensar que se o outro souber mais a nosso respeito deixarão de nos amar e nos rejeitarão, quando na verdade a rejeição e o amor deve começar a ser trabalhado em nós mesmos. O medo da origem ao fingimento e do fingimento nasce os conflitos de toda ordem.
Finalmente, somente através da compreensão de que somos imperfeitos e temos defeitos, será possível viver a intimidade de forma plena e melhor compreendida, pois a intimidade exige que estejamos preparados para revelar nossos aspectos negativos, não para chocar ou agredir os outros, mas para que eles possam nos ajudar a crescer. É mais fácil sermos amados em nossa frágil e imperfeita humanidade – e não quando fingimos ter tudo sob controle. Quando compreendermos que nem todas as pessoas vão gostar da gente, viveremos mais verdadeiramente e não teremos medo de ser nós mesmos. Como nos coloca Matthew Kelly que a intimidade é uma de nossas necessidades mais fundamentais e um pré-requisito para a felicidade. Você pode viver sem intimidade, mas será tolhido de se realizar e desabrochar.
José Geraldo Rabelo
é psicoterapeuta, psicólogo, filósofo, escritor e palestrante
Conflitos sobre sexo e intimidade
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