VERMINOSES
Este texto trata das verminoses ou parasitoses intestinais mais comuns que atingem os brasileiros. Afinal, quem nunca ouviu falar no amarelão, na lombriga, na solitária ou na xistose?
Para entendermos melhor o que são as verminoses, é bom que comecemos por explicar que todas elas têm uma característica comum: um parasita (o verme causador de cada doença) que vive às custas de um hospedeiro (no caso, o homem) e lhe prejudica a saúde.
A seguir, apresentaremos as características de cada uma das principais verminoses e explicaremos como invadem o organismo humano e passam a prejudicá-lo, e também como fazer para evitá-las.
· Amarelão
A ancilostomíase ou amarelão atinge milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente nos países de clima quente. Os vermes causadores dessa doença são muito pequenos e seu ciclo de vida relaciona-se com a temperatura quente e a contaminação do solo por fezes, característica dos países tropicais. Encontrando tais condições, os ovos do parasita, eliminados junto com as fezes das pessoas contaminadas, dividem-se rapidamente e, em 24 horas, as larvas eclodem.
Em pouco mais de uma semana tornam-se muito móveis e adquirem grande capacidade de infectar. Suas principais vias de transmissão são a boca (que é a porta de entrada para alimentos contaminados) e a pele, principalmente pela penetração ativa das larvas através dos pés descalços – algumas chegam, inclusive, a atingir o coração e os pulmões. Do pulmão, as larvas, já maiores, e sempre usando o sangue e o sistema circulatório como "estradas", migram para o aparelho respiratório, atingem o esôfago e chegam ao intestino, onde os vermes, já adultos, iniciam nova postura de ovos.
O diagnóstico pode ser feito a partir das manifestações que ocorrem em cada um dos trechos do trajeto do parasita dentro do corpo humano. Manchas vermelhas na pele, com coceiras acentuadas no local da penetração; tosse por irritação do pulmão e dores de barriga são os principais sintomas da fase aguda da doença. Na fase crônica, o paciente sente-se cansado, tem tonteiras e sua pele se torna amarela, por causa da anemia; apresenta, ainda, vômitos e diarréia, pela irritação da mucosa intestinal. Quando atingidas, as crianças costumam apresentar atraso no crescimento.
O simples exame de fezes confirma o diagnóstico e o tratamento é feito com o vermífugo apropriado para eliminar o verme. Essa verminose pode ser controlada ou até erradicada na medida em que melhorem as condições de saneamento básico e de higiene pessoal, bem como feitas a limpeza dos alimentos e habitações.
Lombriga
Causada pelo verme denominado áscaris lumbricóides ou lombriga, a ascaridíase também é encontrada em quase todo o globo terrestre, estimando-se que 30% da população mundial esteja parasitada. Em conseqüência de sua elevada ocorrência e capacidade de provocar infecções respiratórias e crônicas em crianças, é considerada uma das doenças características de países subdesenvolvidos.
O parasita tem o seguinte ciclo: os ovos férteis da lombriga permanecem no solo por vários meses até serem ingeridos pelo homem. Passam então pelo sistema digestivo humano e vão eclodir no intestino. As larvas liberadas amadurecem, caem no sistema circulatório e invadem o fígado, um dia após a infecção. Em 2 ou 3 dias migram para o pulmão e sobem para o sistema respiratório. Daí podem ser expelidos pela tosse ou descer novamente até o intestino. Em dois meses, os vermes tornam-se maduros e seus ovos podem ser encontrados nas fezes humanas. As lombrigas podem viver no organismo por mais de um ano.
Assim, a transmissão mais comum da doença ocorre pela ingestão dos ovos do verme em alimentos contaminados. Recentes estudos feitos em material retirado das unhas de estudantes mostraram índices alarmantes: mais da metade estava contaminada por ovos de áscaris ou lombrigas, e também por outros vermes. Isso justifica plenamente os ensinamentos do Programa Viva Legal a respeito da necessidade de limpeza diária e freqüente das mãos e unhas.
Os sintomas que permitem diagnosticar a verminose por lombriga relacionam-se com o número e o estágio dos vermes - larvas ou adultos - presentes no organismo. Se nas infecções brandas por larvas geralmente não há sintomas, nas infecções maciças são encontradas lesões no fígado e pulmão. Nas infecções médias ou maciças, os sintomas podem ser graves, pois os vermes consomem grande quantidade de proteínas, açúcar, gorduras e vitaminas A e C, levando o paciente, principalmente as crianças, à subnutrição e abatimento físico e mental. Pode também ocorrer a formação de um "bolo de áscaris", causando obstrução intestinal. Entre crianças, é muito comum o aparecimento de manchas claras e circulares no rosto, denominadas "panos".
Os exames clínico e parasitológico de fezes são conclusivos a respeito do diagnóstico e o tratamento requer, além do medicamento específico, cuidados especiais com a alimentação, que deve ser mais rica e de fácil absorção porque a mucosa intestinal está lesada e com dificuldade de absorver os nutrientes.
Como os ovos desse parasita são muito resistentes aos desinfetantes usuais, e como a casa funciona como foco de ovos, as medidas de prevenção dessa doença são:
· a educação em saúde;
· a construção de fossas sépticas nas casas sem rede de esgoto;
· o tratamento periódico em massa da população afetada, após fazer exame de fezes, por 2 anos consecutivos;
· a proteção dos alimentos contra a poeira e insetos;
· a limpeza cuidadosa e até a fervura dos alimentos, antes de consumi-los.
Oxiúros
É uma verminose muito comum no Brasil, atingindo principalmente as crianças e os jovens de ambos os sexos. Os vermes desse tipo são brancos, finos e compridos, parecendo fios de linha, e vivem no intestino humano. As fêmeas repletas de ovos são encontradas na região em torno do ânus. Nas mulheres, às vezes pode-se encontrar esse parasita na vagina, útero e bexiga.
O verme tem o seguinte ciclo: após copularem, os machos dessa espécie são eliminados junto com as fezes e morrem. As fêmeas, cheias de ovos, se desprendem do intestino e dirigem-se para a região anal, principalmente à noite, onde põem seus ovos. Estes ou se rompem ou são eliminados para o ambiente. Se não houver reinfecção, o parasitismo se extingue aí.
A infecção ocorre, portanto, pela boca, seja pela poeira que infecta os alimentos, seja porque os ovos da região perianal são novamente levados à boca (as pessoas coçam o ânus e, posteriormente, colocam a mão na boca). A retroinfecção também pode ocorrer, com as larvas fazendo o trajeto de volta para o interior do intestino. A doença, na maioria dos casos, passa despercebida. O sintoma mais freqüente, e que pode indicar o diagnóstico, é a coceira intensa em redor do ânus, principalmente à noite. Devido à proximidade com os órgãos genitais femininos, os oxiúros podem provocar infecções com corrimento. Nem sempre o exame de fezes acusa a doença.
O tratamento dos oxiúros inclui o uso de vermífugo, a fervura das roupas de uso e de cama, o tratamento de todas as pessoas da família, repetido de 2 a 3 vezes, com intervalos de 20 dias, o corte rente das unhas e a limpeza doméstica rigorosa, usando aspirador de pó, quando for possível, ou passando pano com desinfetante ao redor da cama.
A solitária
A solitária ou teníase é uma verminose causada por parasitas, cujos hospedeiros intermediários são os porcos e que têm no homem seu hospedeiro definitivo.
Os vermes adultos ou tênias geralmente causam poucos danos. Porém, suas larvas - os chamados cisticercos - são responsáveis por diversos sintomas, dependendo de sua localização, número, tamanho e forma. Portanto, uma mesma espécie de verme é capaz de causar sintomas diferentes, caso esteja presente no homem em fase de larva ou em fase adulta.
A teníase é um conjunto de alterações provocadas pela presença da forma adulta das tênias (vulgarmente chamadas de solitárias) no intestino do homem. A cisticercose, por sua vez, é um conjunto de alterações provocadas pela presença de larvas (vulgarmente chamada canjiquinha) nos tecidos do porco, podendo também ser encontrada no homem.
Na fase adulta ou reprodutiva, as tênias vivem no intestino do homem. Já o cisticerco é encontrado principalmente sob a pele, nos músculos, coração, cérebro e no olho humano.
O verme tem o seguinte ciclo: o homem portador da tênia adulta elimina partes grávidas de seu corpo nas fezes. Os ovos ficam no exterior, contaminando o ambiente. Porcos ingerem essas fezes, formando então larvas ou cisticercos em seus músculos. Ao ingerir a carne de porco crua contaminada o homem contamina-se com cisticercos, os quais, ao atingirem seu intestino, transformam-se em vermes adultos e todo o ciclo recomeça. Portanto, as tênias são adquiridas pela ingestão de carne crua suína, infectada com o cisticerco. A cisticercose humana, por sua vez, é adquirida pela ingestão de ovos de Taenia solium, geralmente através da autoinfecção por mãos sujas.
No caso das teníases, o acelerado crescimento dos parasitas provoca sintomas como tonturas, cansaço, desânimo, náuseas, vômitos, inchação do abdome, dores em diferentes regiões do abdome e perda de peso. A cisticercose provoca graves lesões no homem e suas manifestações clínicas dependem da localização dos cisticercos, do número e do estágio de desenvolvimento dos parasitas. Se alojados no cérebro, podem provocar dores de cabeça com vômitos, dormências localizadas, desordem mental e ataques epilépticos, e até mesmo levar ao coma. Se no coração, podem causar palpitações, ruídos anormais e cansaço. Se alojados no olho, podem provocar descolamento da retina e perda da visão. O exame de fezes permite a identificação dos parasitas. O diagnóstico da cisticercose é praticamente impossível sem a ajuda de exames complementares, que são indicados em decorrência dos sintomas. O tratamento é feito com medicamentos específicos e, dependendo das localizações do cisticerco, pode haver a necessidade de realizar-se um tratamento cirúrgico.
As medidas de prevenção mais importantes dessa doença são: impedir o acesso dos porcos às fezes humanas; melhorar os serviços de água, esgoto e fossa sanitária; tratar os casos de teníase ou cisticercose; orientar a população para que não coma carne mal cozida ou mal passada; estimular a melhoria do sistema de criação de animais; adotar os cuidados diários de higiene.
A xistose
No Brasil, a esquistosomose, popularmente conhecida como xistose, barriga d’água ou mal do caramujo, atinge milhões de pessoas. O verme causador dessa doença pode ser encontrado em várias fases do seu ciclo evolutivo: como verme adulto (macho e fêmea), ovo, miracídio, esporocisto e cercária.
A transmissão ocorre pela penetração ativa das cercárias na pele e mucosa humanas, principalmente através da pele dos pés e pernas.
Os vermes adultos vivem no sistema circulatório do homem, onde vão parar após atingir o fígado. Sofrem aí sua maturação sexual e, em seguida, iniciam a deposição de ovos. Os ovos são expelidos pelas fezes humanas e alcançam a água; aí eclodem e saem os vermes, na forma de miracídios, que nadam para o caramujo e nele penetram, transformando-se em esporocistos. Evoluem então para a fase de cercárias, que saem do caramujo e nadam até alcançar, mais uma vez, o homem.
Os sintomas dependem de vários fatores, como o tipo e a quantidade de parasitas adquiridos, a idade, o estado nutricional e a capacidade de defesa da pessoa. Antes da postura de ovos, o doente pode sentir apenas mal-estar, com ou sem febre, tosse e dores nos músculos. Iniciada a fase aguda, mais ou menos 2 meses após a infecção, a disseminação dos ovos, principalmente no intestino e fígado, provoca uma reação e o paciente apresenta mal-estar, emagrecimento, alergias, tosse, diarréia, fígado e baço aumentados. Na fase crônica, os sintomas variam dependendo de qual órgão do corpo foi mais atingido. Caso tenha sido o intestino, a pessoa tem dores de barriga e diarréia; se fígado, este cresce de tamanho, fica doloroso à palpação e, com o passar do tempo e o aumento das reações, tende a encolher e a endurecer suas fibras, causando dificuldades para a passagem do sangue. O sistema circulatório ficará prejudicado, causando comprometimento até do coração. Com a evolução da doença, todo o organismo se ressente. O doente apresenta barriga d’água e, às vezes, varizes no esôfago, que provoca vômitos de sangue vivo.
Os exames clínico e de fezes fecham o diagnóstico e o tratamento é feito com medicamentos apropriados. O tratamento da população afetada pela doença, a melhoria do saneamento básico, o combate aos caramujos transmissores e a educação em saúde constituem as medidas de controle dessa doença.
Este texto apresentou as principais verminoses que atingem milhões de pessoas - principalmente as crianças - dos países do mundo de clima quente e nos quais a pobreza e as precárias condições de vida são uma característica social importante. Vimos que todas as verminoses são causadas por parasitas que têm no homem seu hospedeiro. Afetando a saúde e prejudicando em graus diferentes a capacidade e disposição para a vida, para o estudo e para o trabalho, as pessoas acometidas dificilmente se livram dos vermes em definitivo, pois mesmo que sejam tratadas voltam a se reinfectar e a adoecer novamente, caso permaneçam inalteradas as situações de vida que originaram a fácil transmissão dessas doenças
SUGESTÃO DE ATIVIDADES
I – Antes da sessão de vídeo –
· Atividade 1
· O coordenador das atividades (professor, agente de saúde ou educador) programa sessões do vídeo sobre Verminoses, do Programa Viva Legal. Antes de começar, reúne o grupo de jovens e crianças numa roda e os motiva para a sessão perguntando:
· Quem já teve vermes? Como descobriu? O que sentia? Como se tratou? Teve de novo? O que sugere para acabar com esse problema entre as crianças?
Todas as respostas devem ser anotadas no quadro, pois serão retomadas após a sessão de vídeo.
II– Após a sessão de vídeo –
· Atividade 2
Primeira fase: O coordenador divide a turma em grupos de 5 pessoas e escolhe um relator para cada grupo, que anotará os pontos principais da discussão. A proposta é que cada integrante de grupo escolha uma coisa nova que aprendeu, ao assistir o vídeo, e fale um pouco sobre ela. Após todos falarem, o grupo apresenta sugestões fáceis para combater as verminoses entre as crianças da comunidade.
Segunda fase: O coordenador desfaz os pequenos grupos, vai ao quadro e pede aos relatores que apresentem as novidades aprendidas pelos participantes (eliminando os pontos repetidos) e as sugestões apresentadas para combater as verminoses. Escreve os principais resultados da discussão e programa, com a turma, visitas às escolas, parques, bem como reuniões das associações e de igrejas, visando disseminar as sugestões de controle das parasitoses entre as crianças.
Obs.: Pode ser programada uma Semana de Combate à Verminose nas escolas, apresentando às diretoras as sugestões levantadas pelos grupos de trabalho.
· Atividade 3
Outra alternativa interessante é o coordenador pedir aos participantes, divididos em pequenos grupos, que retomem as informações do vídeo e deste texto, e depois desenhem o ciclo de cada um dos principais vermes que têm no homem o seu hospedeiro. Ao final da atividade, cada grupo ficará encarregado de apresentar um verme e seu ciclo aos demais grupos. O coordenador ficará atento para esclarecer as dúvidas porventura existentes.
Em conclusão, retomará com os participantes as principais medidas de controle das verminoses.
* Dr. José Veloso Souto Junior
Dra. Maria Aparecida Andrés Ribeiro (UFMG)
Aqui vos escreve o autor dos projetos em vários municípios e nos estados do Rio de janeiro, São Paulo, Ceará e Minas Gerais, da SEMANA MUNICIPAL (ESTADUAL) DE PREVENÇÃO E COMBATE À VERMINOSE. Parabens pelo magnífico trabalho sobre a conscientização e informações aos escolares, sobre o problema desta doença que é a que mais atinge a população brasileira e mundial.
Desejo que realizem todos os anos este trabalho que tenho certeza que servirá para melhorar a saúde das crianças e de seus familiares.
Um forte abraço.
Dr. Moisés Eli Magrisso
(vide google sobre os projetos, e inforum verminose parasitas sobre dúvidas de portadores de parasitoses).