Durante a Mostra Cultural os alunos puderam mostrar o que aprenderam em sala/Fotos: Arquivo Pessoal
Em 1992, a ONU declarou a data 22 de março como o Dia Mundial da Água, e a cada ano o órgão promove um assunto relevante relacionado à principal fonte de vida da Terra. No ano de 2011, o assunto é "Água nas Cidades".
De acordo com dados a agência de água de São Paulo, a Sabesp, um brasileiro consome até 200 litros de água por dia - número muito superior aos 3,3 m³/pessoa/mês (cerca de 110 litros de água por dia) indicados pelas Nações Unidas.
Os brasileiros precisam de uma re-educação ambiental, e para começar a semana da Água, o EcoD conheceu a história da professora de ciências Débora Catarino como fonte inspiradora de incentivo à preservação.
Débora é professora de rede pública da cidade de São Paulo desde 2002, e em 2008 realizou um projeto piloto de educação ambiental para crianças da 5ª e 6ª séries, em parceria com a ONG Água e Cidade, pelo projeto Água na Escola. Com ele, os estudantes da escola municipal Paulo Duarte passaram a ter contato com assuntos como composição da água, a importância do ciclo, alerta para escassez, uso racional e, alternativas para economizar água.
A professora sabe da importância do seu trabalho na educação socioambiental de seus alunos pré-adolescentes – na faixa de 10 a 12 anos. São eles que vão tomar as melhores decisões para um mundo mais responsável quando começarem a escolher o que consumir, por exemplo. E como diz a professora, “educação ambiental é um trabalho de formiguinhas” que deve ser praticado diariamente. Não só apenas pelos professores, mas pelos pais, amigos, vizinhos e, por que não, pelos filhos.
Os alunos também se envolveram na produção do projeto
EcoDesenvolvimento.org: Como você conheceu o trabalho da ONG Água e Cidade?
Débora Catarino: A ONG fez um convite para as escolas das regiões de atuação do Programa Córrego Limpo da Sabesp enviar um representante para participar do curso de formação, com duração de dois dias, para possível implementação de projetos. Fui escolhida pela direção da escola, já que eu me encaixava no perfil para desenvolver projetos com o tema água, por ser professora de Ciências e estar naquele momento trabalhando com as turmas alvo (5ª série/6ºano).
Como foi o processo para a implantação do projeto?
Primeiro eu participei do curso de formação oferecido pela ONG Água e Cidade, em maio de 2008, quando tive oportunidade de conhecer o programa Água na Escola e trocar experiências com profissionais de outras áreas. Durante o curso eu me apaixonei pelo projeto e as ideias para aplicação nas aulas foram surgindo.
A aplicação do material da ONG com os alunos começou a ser desenvolvida em agosto de 2008. No entanto, foi no ano de 2009 que consegui implantar o projeto de maneira mais abrangente, fazendo parceira com a professora de Língua Portuguesa e envolvendo toda a comunidade escolar durante a Mostra Cultural.
Qual o incentivo que você teve para realizar o trabalho?
Primeiro a seriedade e o respeito com a qual as pessoas da ONG Água e Cidade nos tratam, ao cumprir prazos de entrega, manter um site totalmente atualizado e sempre auxiliando nas dúvidas e necessidades – são verdadeiros parceiros. O fato dos alunos receberem o material de estudo e não precisarem devolver ajuda muito, porque acabam se apegando ao material e cuidando bem dele – a alegria com a qual as crianças recebem as revista é um incentivo e tanto para a continuidade do trabalho.
Um dos jogos realizados com os alunos é o "Percurso da Economia"
Como as crianças reagiram às aulas?
Em 2008, eu trabalhei o tema Água utilizando as revistinhas, almanaques, apresentações de slides e vídeos oferecidos pelo pessoal da ONG. Já no ano seguinte, tive tempo de elaborar um projeto mais bem estruturado (Economize Brincando), onde o tema foi trabalhado ao longo do ano, uma vez por semana. Os alunos aguardavam com muita expectativa as aulas de quarta-feira e com enorme ansiedade a próxima revistinha. Adoravam fazer a leitura compartilhada onde todos queriam se colocar no lugar dos personagens. Todas as atividades propostas foram muito bem aceitas e tiveram uma grande participação.
Estou certa que a atitude dos alunos em relação à água mudou, pois fizemos a análise das contas e muitos considerados “gastões” vieram em outros momentos se justificar, contando que tinham chamado a atenção do irmão, mãe, pai e que vazamentos haviam sido consertados.
Você acha que esses alunos passaram a entender mais sobre educação ambiental?
A gente sabe que a educação ambiental é um trabalho lento e gradual, de “formiguinhas” como costumamos dizer, mas ele está acontecendo diariamente. Sabemos também que em educação ambiental um exemplo vale mais do que mil palavras e muitas vezes temos dificuldades no nosso trabalho porque nem sempre conseguimos a parceria da família. Mas temos uma escola limpa e isso é, certamente, fruto de um trabalho de educação ambiental.
O projeto Economize Brincando ainda está em prática?
Sim, embora em 2010 e 2011 a professora Sueli Nardini é que trabalha com as séries/anos alvo, o que não impede que o tema seja trabalhado por toda a escola.
Desenho feito pela aluna Jenifer, da 5ª série
Você já realizou algum outro trabalho relacionado ao meio ambiente e a responsabilidade social com outros alunos?
Sim. Essas atividades fazem parte do currículo de Ciências e acontecem com frequência nas minhas aulas, mas percebo que quando elas vêm em forma de projeto são muito mais produtivas e significativas. Em 2003, eu trabalhei os princípios da Carta da Terra, onde cada aluno ilustrava da maneira que tinha compreendido o assunto discutido na aula. Ao final montamos painéis e uma árvore cheia de mãos (ao invés de folhas) com pedidos e desejos para promover uma cultura de paz.
Em 2004, fizemos parte do programa da Prefeitura de São Paulo “Pra viver de bem com os bichos”, com parceria do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). O projeto contempla os conceitos e as práticas que envolvem a posse responsável de animais de estimação. Foi um trabalho também desenvolvido ao longo do ano, com participação da comunidade em entrevistas e na Mostra Cultural onde os trabalhos finais foram expostos. Ganhamos até um concurso promovido pelo CCZ naquele ano.
E em 2005, em outra parceria com a professora de Língua Portuguesa, os alunos construíram jogos (dominó, trunfo, caça-palavras, carta enigmática, percurso, quebra-cabeças, memória) com o tema focado para o meio ambiente: Água, Ar, Energia, Reciclagem, Animais, etc.
O que te inspira e te dá vontade de realizar ações como estas com as crianças?
Minha inspiração vem da vontade de transformar através da educação. Vislumbrar um bom futuro pro país e individualmente para cada um dos meus alunos. Acredito de verdade no meu trabalho e nos meus princípios e também sei o tamanho da influência que tenho na vida dessas crianças – quero que essa influência seja positiva, produtiva e permanente.
Fonte:http://www.ecodesenvolvimento.org.br/posts/2011/marco/educacao-ambiental-para-a-preservacao-da-agua