Daniel Mello, da Até agora, nenhum setor da indústria apresentou uma proposta sobre o modelo de recolhimento, reciclagem e destinação final de seus produtos
São
Paulo – Sancionada há um ano, no dia 2 de agosto de 2010, a Política Nacional
de Resíduos Sólidos mudou a maneira como o governo, em suas três esferas,
empresas e cidadãos devem encarar a destinação do lixo. Um dos principais
pontos diz respeito à logística reversa, que traz para os vendedores e
fabricantes parte da responsabilidade no descarte dos resíduos dos produtos.
Esse tema depende de acordos com as cadeias produtoras que
devem definir o modelo de recolhimento, reciclagem e destinação final,
para entrar efetivamente em funcionamento. Mas, até o momento, nenhum ramo
industrial apresentou proposta nesse sentido.
Para
a coordenadora de Ambiente Urbano do Instituto Polis, Elisabeth Grimberg, o
atraso no processo de definição da logística reversa se deve à falta de empenho
das indústrias.
“[Não há] Nenhum movimento dos fabricantes nessa direção de
assumir que estão fazendo uma discussão de com qual modelo eles vão fazer a
parte deles”, disse em entrevista à Agência Brasil.
A
indefinição prejudica, segundo Elisabeth, outros pontos previstos na política
nacional, como os planos municipais para gestão de resíduos. Isso porque as
estratégias devem levar em conta todo o manejo, incluindo a coleta e reciclagem
da qual as empresas também deverão participar.
A
situação se agrava, na avaliação da especialista, em razão dos prazos. Os
planos municipais devem ser concluídos até 2012 e, em 2014, só poderão ir para
os aterros o lixo que não tem mais como ser aproveitado ou remanufaturado.
Existem,
entretanto, setores que estão mais avançados no processo de discussão, segundo
o secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério de Meio
Ambiente, Nabil Bonduki. Ele cita, por exemplo, os fabricantes e distribuidores
de lubrificantes que, de acordo com o secretário, deverão assinar um acordo
setorial antes do fim deste ano.
Outros,
como o de eletroeletrônicos, Bonduki define como “complexos” porque abrange
vários produtores diferentes. “Envolve computadores, celulares,
eletrodomésticos”, enumera. Diversidade que, na avaliação dele, deve dificultar
a assinatura de um acordo. “Certamente na hora da definição de qual será a
proposta não será fácil encontrar um denominador comum. Talvez terá que ser
feita, em cada um desses segmentos, uma proposta específica”, antecipa.
O
secretário faz questão de ressaltar, no entanto, que a indústria não está
“apática” no processo de discussão. Mas ele pondera que só será possível saber
até que ponto as empresas estão realmente dispostas a colaborar quando a
logística reversa for colocada em prática. “Na hora que for proposta uma
logística dos diferentes setores, nós vamos ver qual vai ser o grau de adesão à
proposta que for lançada.”
Para
o diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e
Resíduos Especiais (Abrelpe), Carlos da Silva Filho, é normal que haja um
período de adaptação à lei, sem resultados práticos. “Esse é um processo
natural. Porque a lei é bastante inovadora, que altera a sistemática até então
desenvolvida e exige um tempo de adaptação”, avaliou.
Mas
o período de discussão chegou ao fim, na opinião de Silva. Por isso, deve-se
exigir, a partir de agora, o cumprimento do estabelecido na legislação. “A
partir desse momento o assunto já está mais do que maduro para ser exigido,
inclusive, o seu não cumprimento pode ser penalizado.”
Elisabeth Grimberg lembra
que a legislação permite diversas formas de execução da logística reversa. A
proposta, inclusive, leva em consideração os catadores de material reciclável.
“Existe toda essa rede de entidades que é atuante e que pode estar envolvida.
Isso, em um país como o Brasil, que tem a presença histórica de trabalhadores
nesse campo.”
“[Não há] Nenhum movimento dos fabricantes nessa direção de assumir que estão fazendo uma discussão de com qual modelo eles vão fazer a parte deles”, disse em entrevista à Agência Brasil.
Fonte: exame.abril.com.br