Victor Francisco Ferreira, Agência USP de Notícias
Alunos tendem a lembrar das músicas e
relacioná-las aos conteúdos ensinados
A música facilita o ensino da história pois cria empatia entre aluno e professor e forma um referencial de memória para os alunos, facilitando, assim, sua relação com o conteúdo. É o que diz Milton Joeri Fernandes Duarte, autor da tese de doutorado A música e a construção do conhecimento histórico em aula, defendido em maio na Faculdade de Educação (FE) da USP sob orientação de Katia Maria Abud Lopes.
Graduado em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e professor de história desde 1987, Duarte afirma sempre ter utilizado música em suas aulas. Foi a partir da sua experiência em classe que ele resolveu estudar até que ponto a linguagem musical auxilia no ensino da história e como professores e alunos que não possuem conhecimentos de linguagem musical conseguem trabalhá-la em sala de aula.
Para responder tais questionamentos, o pesquisador acompanhou durante o ano de 2007 as aulas de uma professora de história para alunos da quinta série da rede municipal de São Paulo. No ano seguinte, ele selecionou 8 dos alunos da turma, 4 meninos e 4 meninas. Ele os entrevistou para saber os seus gostos musicais e, principalmente, qual era a relação que eles faziam entre o conteúdo e as músicas apresentadas pela professora. “Nas entrevistas fiz o procedimento contrário ao que era feito na sala de aula. Apresentava pequenos textos que falavam sobre os conteúdos ensinados pela professora e perguntava o que aquilo os lembrava. Todos os alunos referiram-se às músicas ouvidas nas aulas e, de certa forma, isso os ajudava a lembrar partes do conteúdo”, afirma.
A partir dos estudos teóricos, da análise de campo e das entrevistas, Duarte chegou ao conceito de consciência musical. “A música forma um referencial de memória. Por isso existem as músicas que marcam a vida de uma pessoa”, afirma. Esse conceito é ligado à consciência histórica, que é a forma como a pessoa se posiciona perante a sociedade e os fatos históricos, dependendo da experiência de vida e das situações sociais e econômicas que ela vive.
Dentro da sala de aula, a música aproxima a memória individual do professor com a dos alunos. A maior parte da consciência musical não é criada na escola, mas vem do cotidiano familiar. Por isso é necessário que o professor contextualize as canções que mostre aos alunos e que se proponha a conhecer o que os alunos gostam de ouvir para haver maior empatia entre eles. “Nas aulas que analisei, toda sexta-feira um aluno levava um CD que ele gostava de ouvir em casa para a classe e a turma o escutava. Funcionava como se a professora dissesse ‘eu ouço a música de vocês, então vocês ouvem a minha’. Facilitava a aceitação dos alunos com as músicas passadas pela professora”, conta Duarte.
Música e realidade
O pesquisador retoma uma ideia de Arthur Schopenhauer, filósofo alemão do século 19, que diz que a música é o máximo da expressão artística, é a arte que mais se aproxima da realidade por ter maior carga emocional que as outras. “As pessoas são tocadas emocionalmente pela música. Por isso professores e alunos que não dominam a linguagem musical conseguem trabalhá-la em sala de aula”, explica. Segundo Duarte, mesmo aqueles que entendem de música são inicialmente atingidos pela emoção. “Só depois que a pessoa pode parar e pensar com o conhecimento técnico que ela tiver”.
O autor do trabalho afirma que a música é pouco utilizada em sala de aula. “Muitos professores têm medo de os alunos não receberem bem as músicas, acharem que são velhas, etc. Mas é preciso contextualizá-las com os alunos, criar empatia para elas serem bem utilizadas”, explica. Ele ainda diz que o professor que usa música em aula se torna um marco na vida dos alunos. “Eu encontro ex-alunos na rua que me cumprimentam e lembram de determinada música que foi passada em sala de aula. Eu mesmo, ao ouvir uma canção medieval na televisão, certa vez, lembrei que já a havia cantado na sexta série, na aula de um professor de Português que também era maestro, chamado Roberto Martins”, revela.
(Agência USP de Notícias/Imagens:Arquivo Mídias Online / USP Imagens)