Marília Arantes, da Envolverde
Ao dar
início às apresentações, Javier Maroto, prefeito de Victoria-Gasteiz, nomeada
Cidade Verde Europeia 2012, demonstrou estratégias e políticas aplicadas ao
tema em uma população local de cerca de 250 mil habitantes. Para Maroto, “o
grande desafio é fazer com que cada habitante se preocupe com a destinação dos
resíduos de seu próprio consumo”.
O diretor
da Agência de Resíduos da Catalunha, Josep Maria Tost, dividiu com a plateia as
políticas que também fizeram da gestão catalã um modelo de sustentabilidade.
“Foram vinte anos trabalhando o tema, a partir de diretrizes e leis nacionais e
da União Europeia. Não foi feito de um dia para o outro.” Segundo Tost, para
sanar o problema das sacolas plásticas, “foram três anos de trabalho e muitos acordos
para chegarmos em consensos. Negociamos com os fabricantes de sacolas
plásticas, criamos mecanismos de controle que incluíram inspeções e multas”. O
diretor acrescentou também que os valores arrecadados pelo “imposto verde” são
revertidos para os programas de reciclagem dos municípios.
Assim,
Tost sugeriu, “no Brasil não se deve ter pressa, mas aprender conjuntamente.
Reciclar é uma das obrigações dos cidadãos do Século 21. Na Espanha, nossa
motivação vem principalmente da geração de empregos e economia de
matérias-primas”.
Acerca da
Política Nacional de Resíduos Sólidos do Brasil (PNRS), Pedro Stech, diretor de
Tecnologia Ambiental da empresa Estre, alertou sobre a importância da gestão
integrada entre municípios. “A PNRS deu enfoque a um tema que antes ficava em
segundo plano, entre pessoas sem conhecimento pleno do trabalho. Os resultados
melhoraram, a gestão tornou-se um ponto importante e a iniciativa privada
passou a ver grandes oportunidades.”
No
Brasil, segundo Stech, “ainda vivemos a realidade dos lixões. O destino de
muitos deles é desconhecido e o gerenciamento, inadequado”. Para ele, “existem
dois marcos na Política Nacional: o Plano Municipal de Gestão Integrada de
Resíduos Sólidos, que uniu a coleta seletiva, cooperativas e consórcios, oferecendo
soluções conjuntas regionais, em regiões metropolitanas. Depois, vem o fato de
que em 2014 os lixões serão proibidos no país. Isto gerará um novo ciclo de
negócios na área”, acredita. Para Stech, “aterros controlados são formas de
esconder o problema, sou contra. O mínimo que podemos aceitar são os aterros
sanitários”, defendeu.
Da
Ambilamp, organização dos produtores de lâmpadas, registrada pelo Ministério de
Indústria, Comércio e Turismo da Espanha, falou o diretor-geral, Juan Carlos
Enrique. “Hoje contamos com 148 empresas. A legislação intensificou-se entre
2002 e 2008, acerca da destinação de aparelhos elétricos e eletrônicos. Na
Federação Europeia de Produtores de Lâmpadas há um rico intercâmbio de
experiências. Na Espanha, montamos um sistema de tratamento específico para a
reciclagem de mercúrio e compostos do pó fluorescente”, explicou Enrique. A
Ambilamp pretende duplicar a quantidade de lâmpadas que serão recolhidas, entre
2011 e 2014.
Para
Maria Cecília Loschiavo, titular da Faculdade de Arquitetura da Universidade de
São Paulo, é fundamental uma revisão do conceito de design: “uma compreensão
leiga privilegiou aspectos estéticos nas práticas industriais. A PNRS nos traz
vitalidade para trabalharmos a ‘desbanalização’ do termo”. Ela defendeu que
“viemos de uma história de escassez para a de abundância. No Século 21, o
excesso de consumo torna necessário repensarmos nossos parâmetros e estilo de
vida”. Citando Guimarães Rosa, Loschiavo convocou os participantes para “uma
conversa desarmada” em torno do bem comum: “o design deve servir à
sustentabilidade, precisamos pensar cidades criativas, pontos de coleta com
sistemas informatizados, oferecer educação e estímulo aos cidadãos por meio de
cartilhas, guias e experiências. Todavia, estas por mais que sirvam enquanto
referências, nem sempre poderão ser reaplicáveis”, ponderou.
Representando
o Ministério do Meio Ambiente, o secretário de Recursos Hídricos e Ambiente
Urbano, Nabil Bonduki, ofereceu um panorama das iniciativas correntes para
viabilização da PNRS, como uma “responsabilidade compartilhada”.
“Os
municípios deverão entrosar planos estaduais e federais, ou então serão
punidos. É essencial o apoio dos Estados para a regionalização das políticas
intermunicipais. Economicamente, municípios com menos de 150 mil habitantes
tornam-se inviáveis. Todos os Estados participam, por meio de 380 agrupamentos.
Esta é a forma encontrada para levar a Política adiante”, explicou Bonduki.
No Chile,
a política para resíduos sólidos também passa por aperfeiçoamento. Segundo a
avaliação de Mayling Yuen, diretora de Metodologia da Fundação Casa da Paz, “é
um trabalho de formigas, vamos de lugar em lugar. O processo se aprimorou a
partir de 2008, com o plano de ação da Comissão Nacional do Meio Ambiente. Em
2009, criou-se o Santiago Recicla, estratégia de linha nacional”.
“Focamos
no trabalho do reciclador, e tivemos que oferecer medidas como privatização da
reciclagem para fomentar condições e poder avançar em processos de separação
mecânica dos materiais e capacitação daqueles que coletam para reciclagem”,
explicou Yuen.
Por fim,
Helio Mattar, diretor do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, chamou
atenção para o papel do consumidor, “que é o final e o início da questão” nos
mecanismos de ação para a sustentabilidade dos resíduos sólidos. Segundo
Mattar, “a solução só virá da conscientização dos consumidores, futuros
multiplicadores de novos hábitos”. Mencionando a experiência do Akatu, Mattar
compartilhou a dificuldade de provocar uma reação positiva nos consumidores.
“Para retirar o consumidor da zona de conforto não existe mágica, é preciso
mostrar o problema e o repertório de ações que existem. É importante
dimensionar para o indivíduo o peso que ele tem na conta final do município.
Podemos educar o consumidor por metodologias e dinâmicas, dar motivação para
que ele possa agir, além de formar grupos de referência para o consumo
consciente que tenham melhores parâmetros”, observou Mattar.
(Envolverde)