07/10/2011 14:01:17
Escola sobre Redes em Ecologia incluiu a elaboração de projetos de pesquisa com a análise de dados originais trazidos pelos participantes, o desenvolvimento de modelos teóricos sobre problemas específicos, e simulações de redes (foto: T.Lewinsohn)
Elton Alisson, da Agência FAPESP
No fim de setembro, estudantes brasileiros e
estrangeiros de áreas diferentes – como biólogos com formação em matemática e
físicos interessados em aplicações em ecologia – desenvolveram em conjunto
pesquisas sobre redes ecológicas que devem resultar na publicação de artigos
científicos, intercâmbios e em futuras colaborações.
Eles participaram da São Paulo School on Ecological Networks (Escola São Paulo de Ciência Avançada sobre Redes em
Ecologia), realizada de 16 a de 25 de setembro em São Pedro (SP) pela
Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação (Abeco) e pelos
programas de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) e da Universidade de São Paulo (USP).
Promovido no âmbito da Escola São Paulo de Ciência
Avançada (ESPCA), modalidade de apoio da FAPESP, o evento foi organizado por
Thomas Lewinsohn, presidente da Abeco e professor do Departamento de Biologia
Animal da Unicamp, em conjunto com Paulo Guimarães Jr. e Paulo Inácio Prado,
ambos do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências (IB) da USP.
Reunindo 40 estudantes de pós-graduação – em nível de
mestrado, doutorado e pós-doutorado, dos quais 20 brasileiros e 20 estrangeiros
de 12 países – o formato do evento foi baseado na tradição de cursos de campo
em pós-graduação em ecologia no exterior, e incorporada aos programas
brasileiros. O formato inovador combina características de um curso teórico
intensivo e da imersão no trabalho de campo em biologia.
Os estudantes tiveram a oportunidade de assistir a 23
conferências e seminários de pesquisa apresentados por 13 dos mais proeminentes
cientistas da área de redes ecológicas, além de participar de duas sessões de
exercício de análise de dados e formulação de hipóteses e apresentar os
resultados de suas pesquisas em sessões de pôsteres e masterclasses.
Com duração de uma hora, as masterclasses ocorreram em
diversas sessões simultâneas, nas quais um estudante apresentou os resultados
de sua pesquisa, que foram discutidos extensamente por um grupo formado por
dois professores e oito alunos.
“Dos 40 estudantes que participaram da Escola, 26
apresentaram trabalhos nas masterclasses. Muitos deles avaliaram essa forma de
apresentação como o ponto alto de suas participações no evento. Foi uma
oportunidade extremamente útil de rever os resultados de seus projetos e ter
ideias diferentes para entender, analisar e desenvolver modelos teóricos para
os dados que possuem”, disse Lewinsohn à Agência FAPESP.
Nos últimos três dias do evento, os estudantes
desenvolveram projetos de pesquisa intensivos sob a supervisão dos docentes.
Propostos pelos próprios alunos e professores, os projetos incluíram análise de
dados reais, modelagem e simulação de diferentes redes ecológicas, como de
interação entre plantas e animais polinizadores e entre plantas e animais
dispersores, entre outras.
Para realizar os projetos, os participantes foram
distribuídos em grupos com até cinco pessoas de diferentes formações. “Foram
realizados oito projetos em que os estudantes tiveram uma ideia, desenvolveram
ao longo de dois dias e meio de trabalho e depois fizeram uma apresentação do
problema proposto por eles e os resultados que atingiram”, explicou Lewinsohn.
Entre os projetos de pesquisa realizados esteve a
análise de um conjunto de dados sobre uma rede de interação entre mariposas com
flores de plantas de cerrado, estudadas por um aluno da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp).
Outro projeto foi a análise de um conjunto de dados de
interações de plantas com animais herbívoros no Japão e em diversas regiões do
Pacífico, reunidos por um doutorando norte-americano, que também foram
extensivamente analisados e pelo grupo.
“O consenso entre os participantes é que eles
aprenderam muito com essa experiência. O nível de interação e de trabalho dos
alunos foi muito intenso. Foram, aproximadamente, 85 horas de atividades”,
estimou Lewinsohn.
De acordo com o professor, alguns projetos iniciados
na Escola deverão ser continuados e poderão resultar na publicação de artigos
científicos. Além disso, os contatos entre os estudantes e os pesquisadores,
celebrados por intermédio do evento, também deverão resultar em novos projetos,
colaborações de pesquisa e intercâmbios científicos.
“Houve uma variedade muito grande de interações que,
com certeza, terão diversos desdobramentos pelos próximos dois a três anos.
Muitos participantes, principalmente do exterior, ficaram espantados com a
realização de um evento de excelente qualidade e tão amplamente financiado, no
caso pela FAPESP, em um país em desenvolvimento como foi a Escola”, disse
Lewinsohn.
Redes ecológicas
A área de redes em ecologia é bastante recente. Embora
seus fundamentos tenham sido estabelecidos sobre uma grande quantidade de
pesquisa consolidada anteriormente, a área teve um desenvolvimento realmente
forte na última década.
De acordo com Lewinsohn, para promover um balanço de
temas abordados por essa nova área, o conteúdo da Escola foi dividido em dois
eixos: as redes de interação e as redes espaciais.
A primeira vertente analisa diferentes níveis de
interações biológicas, como aquelas que ocorrem entre planta e polinizador,
entre planta e dispersor ou entre parasita e hospedeiro, por exemplo. Para
analisar como se estruturam essas complexas redes de interação entre espécies,
são utilizados diversos métodos, dentro de um contexto multidisciplinar, que
tem grande contribuição da matemática, da física e da estatística.
Já as redes espaciais correspondem à organização de
diferentes tipos de ecossistemas dentro de uma mesma paisagem ou região e são
especialmente importante em boa parte do Brasil, onde os ecossistemas originais
estão cada vez mais fragmentados entre as matrizes agrícolas e, no caso de São
Paulo, também entre as matrizes urbanas.
“Essa estrutura espacial extremamente complexa é
encarada como um problema de redes, em que se discute a reconexão de fragmentos
remanescentes de vegetação florestal natural por meio de corredores, para
estudar diferentes estratégias de manejo e conservação de espécies de animais e
de plantas”, explicou Lewinson.
Mais informações sobre a São Paulo School on Ecological Networks: www.abecol.org.br/redesecologia
(Agência FAPESP)