Álcool e
direção constituem um binômio
que não se coaduna.
A utilização
dele tem sido causa de
milhares de acidentes entre nós.
A bebida
alcoólica é o segundo fator
de risco que tem aumentado de
maneira
geométrica a nossa sinistralidade.
Torna-se
necessário esclarecimento para
entendermos porque esse
binômio é
avesso à vida.
O álcool é um depressor do sistema nervoso central,
por isso atua diretamente nas três funções essenciais para se conduzir um
veículo. É a função cognitiva, motora e sensório perceptiva.
A função cognitiva envolve atenção, concentração,
raciocínio, vigília e outros. Enquanto a função motora é responsável por
conduzir e executar as respostas determinadas pelo cérebro que ao receber os
estímulos visuais e auditivos processa-os e responde através de movimentos do
corpo. A função sensório perceptiva está ligada a sensibilidade tátil, visão e
audição. A perfeita integração dessas funções permite ao ser humano assumir a
direção veicular. Mas, quando uma delas está comprometida, embotada, presente,
mas com desníveis, a rede composta pela integração das três funções estará
comprometida. Em consequência a probabilidade de se ter um acidente aumenta em
quatro vezes em relação ao motorista sóbrio.
O álcool atua sobre essas funções levando a
desatenção, desconcentração, raciocínio e respostas lentas, caindo o nível de
vigília e respostas motoras retardadas. A visão periférica fica diminuída,
passa a ter uma visão tubular, borrada, com visão dupla. Ocorre uma
desorientação espacial, não conseguindo medir distâncias. A audição e
sensibilidade tátil ficam prejudicadas.
O nível alcoólico necessário para alterar essas
funções varia de pessoa a pessoa. Dependem de múltiplos fatores como idade,
sexo, massa corporal, altura, hábito, alimentação, metabolismo e outros.
Torna-se extremamente difícil estipular doses de álcool padrão já que como
descrevemos a ação é multifatorial.
É interessante frisar que a bebida alcoólica dá ao
indivíduo permanentemente a idéia de que está bem, não apresenta queixas, não
vê contra indicações para nada, inclusive para dirigir um veículo. Sempre afirmará
que o álcool ingerido não vai alterar em nada o seu desempenho. Mas que nada,
altera e altera muito. Ele cita isso porque a capacidade de julgamento também
está prejudicada.
Ao assumir a direção do veículo quando se está
alcoolizado, a tendência natural é fazer uso de velocidades a cima do que
normalmente se utiliza. Surge aí o somatório para que o sinistro aconteça e que
a energia do acidente seja capaz de produzir lesões muito mais graves. Lembro
que o primeiro fator desencadeante do sinistro é a velocidade.
A ingestão de álcool faz com que o indivíduo se
apresente como um desorientado, dizendo coisas desconexas, voz pastosa, olhos
congestionados, lentidão de movimentos, o equilíbrio está bastante
comprometido, no caminhar demonstra insegurança, torna-se agressivo, impetuoso,
desrespeita a todos, sente-se com plena liberdade para cometer absurdos. Nesse
estado, ultrapassa seus limites, perdendo a inibição e pudor, achando-se
engraçado, auto-suficiente e enfrentando qualquer situação e com grande prejuízo
do julgamento.
O álcool
desencadeia duas fases interessantes, uma que estimula e outra que deprime. Na
fase de estímulo ocorre euforia, desinibição enquanto na segunda fase produz
descontrole, alterações motoras, torpor podendo ocorrer sonolência.
Inicialmente inibe nossos sentimentos e emoções nos levando a desinibição,
excitação e euforia. Sentimo-nos mais libertos. Somos capazes de tudo. Não
conseguimos julgar o que estamos fazendo. A desorientação é total.
Concluímos que a bebida alcoólica nos transforma, e
sobre efeito dela, apresentamos distúrbios comportamentais importantes, nos
transformamos, nos tornamos irresponsáveis, perdemos o comando, a
personalidade, o caráter e com alterações berrantes do sistema nervoso central
que nos leva aos acidentes com consequências gravíssimas para nós e para
terceiros.
Beber e dirigir constitui o binômio que nos leva a
lesões graves e a morte.
* Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior
Diretor de Comunicação e do Departamento de Medicina
de Tráfego
Ocupacional da ABRAMET
Associação Brasileira de Medicina de Tráfego
ABRAMET
www.abramet.org.br
dirceurodrigues@abramet.org.br
dirceu.rodrigues5@terra.com.br