Vazamento de
petróleo na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, levanta dúvidas sobre a
transparência da petroleira Chevron, causa prejuízos ainda incalculáveis e vira
caso de polícia
Juliana Dal Piva
PREJUÍZO
A extensão do estrago na Bacia de Campos é incalculável
Ao longo da semana passada, a
petroleira americana Chevron tentou, sem sucesso, fechar um derramamento de
óleo na Bacia de Campos, no Estado do Rio de Janeiro.
É o primeiro em alto-mar na costa
brasileira, localizado justamente no principal polo produtor de petróleo do
País, mesmo local onde estão as reservas do pré-sal. O vazamento
começou no dia 10 de novembro e, diferentemente do que foi anunciado, pode ser
gravíssimo. É possível que a quantidade de óleo derramado em Campos chegue a
quatro mil galões por dia.
Depois de vistoriar o local no começo
da semana, a Polícia Federal decidiu abrir inquérito sobre o caso.
“Quanto à existência de crime, não
tenho dúvida, mas preciso delimitar as responsabilidades”, revelou à ISTOÉ o delegado Fábio
Scliar, da delegacia de Meio Ambiente da Polícia Federal.
O problema, no entanto, está apenas
começando e não é o primeiro da petroleira. Em caso de multa à empresa, a
legislação brasileira prevê, para esses casos, valores entre R$ 7 milhões e R$
50 milhões. Muito abaixo do valor estipulado pela Justiça do Equador, que
multou a mesma empresa este ano em R$ 13 bilhões pela poluição com óleo em uma
área de Floresta Amazônica.
O site de observação de imagens de
satélite Skytruth, uma das primeiras entidades independentes a dimensionar o
mega-acidente da British Petroleum (BP) – no Golfo do México, em 2010 –,
publicou fotos, na última semana, obtidas por um satélite da Nasa que apontam
para um derramamento dez vezes maior do que a estimativa dita pela Chevron, até
agora de 330 barris por dia.
E as previsões seguem pessimistas. Embora
a empresa tenha iniciado o processo de fechamento do poço na quarta-feira 16,
ainda não há previsão de quando cessará o derramamento de óleo, pois a fenda
aberta durante a perfuração do poço chega a 300 metros de largura.
“Um funcionário da Chevron, que não
quis se identificar, foi enfático ao dizer que não há prazo para o fechamento
da fenda aberta”, contou o delegado.
O petróleo que vaza é do tipo pesado,
e as perdas financeiras e ambientais ainda são incalculáveis. Para Adriano
Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, o que se pode verificar
já é uma queda nas ações da petroleira. “A Chevron teve perda de quase 5% de
seu valor na bolsa de Nova York na quinta-feira 17”, explicou. A British
Petroleum perdeu 21% de seu valor em seis meses depois da tragédia no Golfo do
México, além do prejuízo de US$ 40,9 bilhões gerado pelo vazamento.
Em um dos primeiros comunicados sobre
o ocorrido, a Chevron afirmou que a fissura estaria relacionada a uma rachadura
no leito do oceano, o que significaria que a causa é um fenômeno natural. “Se
fosse isso, como já se sabe que não é, o erro seria não ter feito um estudo de
impacto ambiental. E, se ele foi feito, como é que o risco não foi previsto?”, indigna-se Leandra Gonçalves,
coordenadora de clima e energia do Greenpeace.
A petroleira já assumiu que o fato
ocorreu durante uma perfuração. Outra inconsistência constatada pela PF é
quanto à capacidade da Chevron para atuar no Brasil.
“A sonda (equipamento utilizado para
observar o local de perfuração) que eles tinham não consegue chegar à
profundidade em que estavam explorando. Eu me pergunto se eles tinham
autorização para perfurar naquela profundidade ou se estavam sem o equipamento
necessário”, diz Scliar.
A mancha de óleo no mar está
localizada a cerca de 120 km da costa. Já o vazamento está situado a uma
profundidade de 1,2 mil metros.
A PF também constatou que apenas um
navio estava fazendo o trabalho de limpeza da região, e não os 18 que a
petroleira informou oficialmente.
Ainda é difícil saber as consequências
do vazamento. O oceanógrafo David Zee, da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (Uerj) e perito do caso, está preocupado. “É impossível medir o
prejuízo porque continua vazando. Mas isso mostra que houve muito investimento
na tecnologia de produção e pouco em precaução”,afirma Zee.
O secretário de Meio Ambiente do Rio
de Janeiro, Carlos Minc, pedirá mais rigor na exploração da região. “O Ibama
vai multar pesado, mas estamos estudando juridicamente como agir na reparação.”
Procurada pela reportagem de ISTOÉ, a
Chevron comunicou-se por meio de uma nota evasiva e confusa. Nela, a empresa
reafirmou informações anteriores e acrescentou que a “mancha na superfície do
oceano é agora uma fração do tamanho original”. Sobre a fenda, disse que o
vazamento resume-se a um “gotejamento”. Questionada pela reportagem de ISTOÉ
sobre as contradições em relação às informações da PF, não deu resposta.