09/02/2012 12:49:40
Stephen Leahy, da IPS
Para enfrentar os desafios do Século 21, entre eles os da mudança climática, alimentação mundial e eliminação da pobreza, é preciso se livrar das “armadilhas do pensamento” que nos impedem de ver o mundo como ele é, declarou a ambientalista norte-americana Frances Moore Lappé. “Não há maneira de abordar a mudança climática ou a pobreza sem uma democracia real”, afirmou a autora de EcoMind: Changing the Way We Think to Create the World We Want (Mente ecológica: Mudar o modo como pensamos para criar o mundo que queremos), publicado pela Nation Books. Lappé escreveu 18 livros, entre eles o muito influente Diet for a Small Planet (Dieta para um pequeno planeta).
A IPS conversou com a ativista sobre seu novo livro.
IPS – A que se refere com “armadilhas do pensamento”?
Frances Moore Lappé – Não vemos o mundo como ele realmente é, mas através de um filtro ou mapa mental. As pesquisas em neurociência mostram que interpretamos o mundo com base em nossas experiências passadas. Em outras palavras, vemos o que esperamos ver. Uma das ideias dominantes em nossa sociedade tem a ver com a escassez ou a carência. Não há suficientes recursos ou alimentos para todos nós. Então, “vemos” ou interpretamos tudo a partir desse filtro ou marco de referência.
IPS – Como nos afeta essa ideia da “escassez”?
FML – Acreditar que não há o suficiente nos coloca na defensiva e nos leva a competir entre nós mesmos. Pensamos que é melhor conseguir o nosso antes que alguém mais o faça. A maioria das pessoas com as quais falo insistem em que nossa realidade atual e futura é que há sete bilhões de pessoas na escassez do planeta. Estão cegas por esta mentalidade.
IPS – Não é verdade que estamos ficando sem recursos como água, energia e alimentos?
FML – Quando jovem estudante descobri que a produção alimentar dos Estados Unidos era extraordinariamente de desperdício e ineficiente. Sete quilos de milho e soja alimentavam o gado para obter meio quilo de carne. Esse meio quilo exigia 45,4 litros de água. Quase metade de todos os alimentos colhidos nunca é consumida. Este desperdício surpreendente é a regra, não a exceção, e não só na produção de alimentos. O setor da energia nos Estados Unidos gasta entre 55% e 87% do que gera. Mas não é só nos Estados Unidos. Estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que três mil das maiores corporações do mundo causaram danos ambientais no valor de US$ 2 trilhões apenas em 2008.
IPS – Por que somos tão destrutivos e desperdiçadores?
FML – É o resultado da atual economia de mercado, que se centra unicamente em gerar os retornos mais rápidos e mais altos para uma pequena minoria que ostenta a riqueza. Nossa economia cria escassez sendo extraordinariamente desperdiçadora e destrutiva. O termo “economia de livre mercado” é completamente errado. O que temos é uma economia de mercado corporativo-monopólica de desperdício e destruição. Temos que ser mais cuidadosos e mais precisos em nossa linguagem.
IPS – Cada vez mais ambientalistas e alguns economistas destacam a necessidade de passar de uma economia centrada no crescimento para uma focada no crescimento, mas você diz que isto é uma armadilha do pensamento.
FML – Sim, leva a um debate que distrai, sobre os méritos do crescimento versus o não crescimento. O crescimento soa como algo bom, por isso a maioria das pessoas resistirá à ideia de não realizá-lo. Contudo, é melhor apontar para um sistema que potencialize saúde, felicidade, vitalidade ecológica e poder social.
IPS – Em seu livro também propõe que todos se centrem em “viver a democracia”.
FML – Os Estados Unidos se converteram no que se chama uma “plutonomia”, onde o 1% de cima controla mais riqueza do que os 99% de baixo. A desigualdade é maior agora nesse país do que no Paquistão ou no Egito, segundo o Banco Mundial. O resultado é que as corporações e os muito ricos influem nas decisões públicas por meio de contribuições políticas e exercendo pressão. Atualmente há cerca de 20 lobistas para cada integrante do Congresso norte-americano. Para contrapor a este governo de privados, precisamos recriar uma cultura de responsabilidade mútua, de transparência, de participação da cidadania e de financiamento público das eleições. A democracia não é simplesmente votar uma vez por ano, mas uma cultura, um modo de vida. A “mãe de todos os problemas”, na maioria dos países, está tirando o poder da riqueza concentrada da tomada de decisões públicas e reforçando as vozes dos cidadãos. A crise ambiental é, de fato, uma crise da democracia.
IPS – Muitas pessoas com consciência ambiental sentem que já é muito tarde e que há muito a ser superado.
FML – Pensar que é muito tarde é outra armadilha do pensamento. Pode ser muito tarde para evitar impactos significativos que poderiam ter sido evitados se há duas décadas se tivesse agido. Não é para a vida. Meu livro está cheio de exemplos de pessoas que assumem cargos e mudam as coisas. O que faz as pessoas pensarem que é muito tarde é que se sentem sozinhas e indefesas. E se sentem assim pelas armadilhas do pensamento, pelas falsas crenças sobre a escassez e sobre a natureza humana como invejosa e egoísta. Estas crenças e um governo de privados conduziram a um sentimento de indefesa.
IPS – Este ano marca o 20º aniversário da histórica Cúpula da Terra, e a Conferência Rio+20 a colocará em destaque em junho. O que pensa a respeito?
FML – Participei da Conferência Rio+10 e retrocedemos nesses dez anos. A Rio+20 pode ser a oportunidade de reverter o curso e nos alinharmos com a natureza para criar o mundo que realmente queremos. Envolverde/IPS
(IPS)
Comentário
Vivemos baseados nas condições empíricas do passado, e resistimos a ALGO CHAMADO MUDANÇAS, para nossas opiniões e desafios sempre surgem controvérsias o algo para derrubar nossos pensamentos e ideais ou muitas vezes somos enganados nos nossos próprios conceitos.
Gostei muito desta entrevista e faz refletir muito
Parabéns