Bill McKibben*
O Brasil teve duas conquistas importantes nas
últimas duas décadas, conquistas consideradas impossíveis por muitos.
O país derrotou a inflação crônica e experimentou um crescimento
econômico real que trouxe consigo uma vida melhor para milhões de pessoas, até
mesmo para aquelas que vivem em localidades extremamente pobres. Um programa
econômico centrado nas pessoas comuns conduziu o país a resultados muito
melhores do que a postura de favorecimento aos ricos que os Estados Unidos
utilizam. Lula foi corretamente aclamado como um herói por muitos em todo o
mundo.
De maneira ainda mais notável, no mesmo período, o Brasil conseguiu
reduzir drasticamente o ritmo do desmatamento da Amazônia. Com a liderança de
pessoas como Marina Silva, que mantiveram o enfoque nas populações carentes, o
Brasil diminuiu as emissões de carbono mais do que qualquer outro país no
mundo. Enquanto a China despejou fumaça de carvão na atmosfera e as empresas
petroleiras paralisaram o Congresso norte-americano, o Brasil reforçou sua
responsabilidade global, fortalecendo os instrumentos de comando e controle
para proteger a Amazônia, provavelmente, o bem mais importante do planeta.
Agora vamos ver se a presidente Dilma Rousseff é capaz de dar
continuidade a este tipo de progresso. Neste momento, os indícios são ruins, na
verdade, são péssimos. Dilma precisa decidir se veta ou não as alterações do
Código Florestal Brasileiro aprovadas ontem (25/4/12) pela Câmara dos
Deputados, que levarão ao desmatamento generalizado acompanhado pela liberação
massiva de gases do efeito estufa na atmosfera.
Se não for vetada pela presidente, a lei anistiará aqueles que
derrubaram ilegalmente parte da floresta na última década, diminuirá os espaços
de proteção dos rios e permitirá mais exploração madeireira. O Código pode
eliminar cerca de 79 milhões de hectares retirando da área de preservação um
território maior que o da Alemanha, Áustria e Itália juntas.
Isso também pode sinalizar que o Brasil está seguindo um novo/velho caminho:
aquele no qual os interesses dos poderosos (neste caso, os latifundiários e o
agronegócio) exercem o poder político real. Em vez de demonstrar, como o
governo Lula fez com tanto vigor, que é possível fazer a economia crescer e, ao
mesmo tempo, proteger o meio ambiente, Dilma parece pronta para adotar uma
postura mais parecida com a dos Estados Unidos.
Esse é um dos motivos pelos quais, no dia 5/5/12, o Brasil será um dos
países onde as pessoas vão se reunir para protestar e “ligar os pontos” sobre a
ameaça das mudanças climáticas ao nosso futuro.
O mundo vai se reunir em junho no Rio de Janeiro para celebrar o 20º
aniversário da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a
Rio-92. A Rio+20 deveria ser a ocasião para uma verdadeira celebração de tudo o
que foi realizado, tendo o Brasil como um dos poucos exemplos mundiais de
progresso. Em vez disso, se o novo Código Florestal entrar em vigor, esta será
uma reunião muito triste, uma reunião para lembrar com que rapidez, mesmo os
países progressistas, podem sucumbir e regressar às práticas econômicas atuais.
* Bill McKibben é escritor e co-fundador da 350.org, uma campanha
internacional ativa em mais de 180 países que visa criar soluções possíveis
para a crise climática.“350” representa as 350 partículas por milhão (ppm) que
muitos cientistas e especialistas em clima consideram ser o limite de segurança
máximo para a quantidade de CO2 na nossa atmosfera. Atualmente estamos em 392
ppm e os números continuam subindo.
Mais informações: www.ligandoospontos.org
(350.org)
Fonte: Mercado Ético