TERÇA-FEIRA, 19 DE JUNHO DE 2012
Gerar energia elétrica para alimentar a própria
casa através de painéis solares fotovoltaicos ou de uma pequena turbina eólica.
Pode parecer uma ideia restrita aos países de primeiro mundo, onde a energia
renovável já é uma realidade bem disseminada, mas é exatamente isso o que
defenderam especialistas em energia que participaram nesta segunda-feira (18)
de um simpósio paralelo à Conferência das Nações unidas para Desenvolvimento
Sustentável (Rio+20), evento internacional que acontece nesta semana na cidade
do Rio de Janeiro.
Entre os participantes do evento “O Setor Elétrico
Brasileiro e a Sustentabilidade no Século 21: Oportunidades e Desafios” estavam
Célio Bermann, professor e pesquisador de eletrotécnica e energia da
Universidade de São Paulo (USP) e ex-assessor da presidente Dilma Rousseff no
Ministério de Minas e Energia; Marcelo Furtado, diretor do Greenpeace Brasil;
Danny Kennedy, fundador e presidente da empresa de energia solar residencial
Sungevity; Élbia Melo, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia
Eólica; Felício Pontes, procurador do Ministério Público Federal; Stefan Schurig,
diretor de energia e clima do World Future Council Foundation; Albino Ventura
Filho, secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de
Minas e Energia, entre outros.
O encontro, que se estendeu pela manhã e por parte
da tarde, debateu sobre a atual matriz energética brasileira – alegadamente
limpa – e sobre os desafios e oportunidades para transformar nosso mix
energético em realmente sustentável, alimentado por fontes realmente renováveis
e limpas.
De acordo com a maioria dos palestrantes, o atual
modelo energético do Brasil – baseado nas usinas de energia hidrelétrica de
grande porte – está longe de ser sustentável, pois essas hidrelétricas, além de
alagarem uma grande área causando enormes alagamentos que levam a um desmatamento
e a grandes emissões de metano devido às árvores que apodrecem sob as águas,
também causam grandes prejuízos sociais, pois deslocam milhares de pessoas de
suas terras, forçando-as muitas vezes a perderem suas casas e meios de
subsistência.
Como alternativa a esse modelo, os participantes do
simpósio sugeriram as energias renováveis como a eólica, a solar, a biomassa e
as pequenas centrais hidrelétricas, enfatizando o grande potencial que essas
energias têm para serem desenvolvidas no Brasil.
Élbia Melo, por exemplo, destacou que, atualmente,
a geração eólica corresponde a menos de 1% do total de energia produzido no
Brasil, mas que há projeções que mostram que esse valor pode chegar a 5,3% em
2014 e 12% em 2020. Ela lembrou também que novas estimativas mostram que o
Brasil tem capacidade para gerar até 300 GW de energia eólica, e que, com
recentes tecnologias, a eólica pode ser até mais eficiente que a hidrelétrica.
Já Danny Kennedy afirmou que a energia solar pode
gerar até três vezes mais empregos do que a energia hidrelétrica, pois cria
trabalho em toda a sua cadeia – desde a produção até a venda e manutenção de
painéis solares, enquanto na energia hidrelétrica essa geração de empregos fica
concentrada apenas na fase de produção energética.
Os palestrantes também defenderam a diversificação
do mix energético nacional, alegando que o apagão que ocorreu no início da
década passada foi causado, em parte, pela concentração da geração de energia
em uma única fonte.
Mas o que os palestrantes realmente ressaltaram no
evento foi a possibilidade – e necessidade – de o Brasil descentralizar suas
fontes de energia, fornecendo a oportunidade de os consumidores gerarem sua
própria eletricidade.
Não faltaram exemplos – dados pelos participantes e
pela plateia – de iniciativas que, nas palavras de Stefan Schurig, deram “power
to the people” (energia/poder às pessoas). A ideia, segundo os especialistas, é
justamente essa: que a população não apenas seja capaz de produzir sua energia,
mas que, desta maneira, se torne mais consciente e ativa a respeito das
decisões e escolhas energéticas do país. Infelizmente, a maioria das
iniciativas como essa ainda ocorre em países desenvolvidos.
Aqui, a geração de energia elétrica em escala
residencial e comunitária ainda está engatinhando, mas já mostra os primeiros
sinais de potencial. Os palestrantes lembraram que, recentemente, a Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) regulamentou a microgeração de energias
renováveis, permitindo que a população tenha painéis fotovoltaicos ou turbinas
eólicas em casa para produzir sua própria eletricidade.
No entanto, as condições ainda são bem limitadas, e
carecem de melhorias para se tornarem atrativas. A instalação destes
equipamentos é cara, e faltam financiamentos para a aquisição dessas ferramentas
de microgeração. Felizmente, já há projetos para resolver esse problema:
algumas inciativas pretendem colocar no telhado de uma casa residencial um
painel fotovoltaico cobrando mensalmente a energia gerada, em vez de vender o
equipamento.
Retrocesso
Infelizmente, nem todos os participantes
compartilhavam destas visões a respeito de uma nova energia, mais limpa e
democrática. Albino Ventura Filho crê que a hidrelétrica ainda deva ser a
principal fonte de energia do país, e que as energias renováveis alternativas
são apenas fontes “complementares”.
Para o secretário de Planejamento e Desenvolvimento
Energético do Ministério de Minas e Energia, o Brasil ainda precisa que as
fontes alternativas fiquem mais baratas e suas tecnologias sejam desenvolvidas nacionalmente
antes de serem implantadas em larga escala. E, apesar de todas as boas
iniciativas apresentadas, se lembrarmos do que disse recentemente a presidente
Dilma Rousseff sobre a irrealidade das energias alternativas no Brasil, pode ser que ainda demoremos a ver essas ações se
tornarem realidade em nosso país.
Fonte : JMA Jornal do Meio Ambiente
Comentário
Rogério
Godoy Princiotti19 de junho de 2012 17:26
As hidrelétricas geram energia a um custo muito alto, seria uma excelente ideia formas alternativas.
A
construção de hidrelétricas são obras de grandes dimensões, com alto potencial
de destruição e impactos ambientais.
Entendo
que deve se manter as hidrelétricas existentes, porém precisamos ter opções de
energias alternativas com novas tecnologias.
Tenho
esperança um dia isto aconteça, e penso que será bom para todos.
Parabéns
ao JMA - Jornal do Meio Ambiente
Abraço