ESCRITO POR RODOLFO SALM
06 DE JULHO DE 2012
POSTADO: CORREIO DA CIDADANIA
Recentemente, o colunista do Correio
da Cidadania Wladimir Pomar publicou dois artigos que me chamaram especialmente
a atenção: “Perguntas de um
ignorante ambiental” e “Belo Monte”,
nos quais ele defende a construção de hidrelétricas como estratégias de
desenvolvimento para o país, e este barramento, em especial, no rio Xingu. Como
colaborador frequente deste jornal em questões ligadas ao meio ambiente,
ecólogo e, acima de tudo, atingido direto por Belo Monte, pois resido na cidade
de Altamira-PA, onde esta obra está sendo desenvolvida, sinto-me na obrigação
de respondê-lo enfática e prontamente.
Antes de tudo, é curioso que o colunista, que no
primeiro artigo diz que “se vê um perfeito ignorante ambiental”, afirma
categoricamente que o aquecimento global é um “dogma” (suposta verdade,
inquestionável por seus defensores), ao invés de um fato científico mensurável,
apesar da infinidade de cientistas sérios que estudam o assunto há algumas
décadas. Mais adiante, supostamente na posição de “ignorante ambiental” ele se
pergunta: “por que os que defendem o abandono da construção de
hidrelétricas, desconsiderando os avanços técnicos e sociais que permitem
mitigar em muito os danos ambientais e sociais, não assinam uma declaração
pública comprometendo-se a não se manifestarem quando os apagões elétricos
começarem, por falta do aumento da geração elétrica?”. Eu realmente
gostaria de saber que avanços técnicos e sociais são estes, pois não são nada
visíveis aqui ao lado do canteiro de obras da maior hidrelétrica em construção
do Brasil. Lamentavelmente, sua defesa cega de Belo Monte revela que sua
“ignorância” vai além do aspecto ambiental, mas que também é econômica,
política e social, como fica mais claro no seu artigo mais recente.
Pomar inicia seu último texto dizendo que, durante
a Cúpula dos Povos da Rio + 20, a construção da hidrelétrica de Belo Monte “foi
transformada num dos crimes ambientais mais graves a ser derrotado pelos
guerreiros ambientalistas”. Na verdade ela não foi “transformada” em crime.
Trata-se de fato do mais grave crime ambiental da atualidade em todo o mundo.
Isso porque o Xingu, até pouquíssimo tempo, era o último grande rio da Amazônia
em bom estado de conservação, livre de hidrelétricas e amplamente ocupado por
povos indígenas. Além do mais, ao contrario do que jura o governo, para ser
viável economicamente, Belo Monte será a primeira de uma série de barragens a
serem construídas neste rio e sua energia servirá apenas para atender às
necessidades industriais (na forma de minérios cuja extração e processamento
exigem grandes quantidades de eletricidade) das grandes potências capitalistas,
e não ao desenvolvimento econômico e social brasileiro, como parece acreditar o
ingênuo colunista.
Mais adiante, Wladimir Pomar lamenta que a
propaganda oficial de Belo Monte, exibida durante a Rio +20 tenha sido um “anúncio
institucional tradicional sobre a grandeza da obra” enquanto ele esperava
que fosse detalhado “o fato de que a represa de Belo Monte terá um baixo impacto
ambiental, em parte devido à alagação mínima, por empregar turbinas de geração
de fio d’água, em parte por ter planos para permitir a piracema e a navegação
fluvial. E que comprovasse que o impacto social previsto deverá ser mais
positivo do que negativo, por incluir medidas de promoção do desenvolvimento
econômico e social das populações indígenas e não-indígenas atingidas pela
obra, além daquelas necessárias para evitar o colapso dos serviços públicos de
saúde, educação e outros, em virtude do aumento populacional da região durante
as obras… explicando em detalhes tudo o que está planejado para evitar os erros
do passado e atender às demandas de mitigação ambiental e desenvolvimento
social, transformando a mobilização contra a represa de Belo Monte em
mobilização a favor”.
Para começar, as obras de Belo Monte já estão em
andamento a todo vapor há mais de um ano. Então não é mais o momento em se
falar no que está “planejado” para evitar os erros do passado, mas no que já
foi feito. Ou melhor, do que não foi feito. Aqui em Altamira, já vivemos uma
situação de “colapso dos serviços públicos de saúde, educação e outros, em
virtude do aumento populacional da região durante as obras”. Nada, ou
praticamente nada, tem sido feito no sentido de evitá-los. O que,
evidentemente, não se percebe do escritório do colunista no Rio de Janeiro, mas
está bem claro para todos os que vivem do lado de cá. E são esses os grandes
responsáveis pela resistência contra a barragem, e não as tais “forças
econômicas e políticas interessadas em impedir o processo de desenvolvimento
econômico e social do Brasil”, que o colunista evoca para explicar a
resistência à obra.
Além disso, para os milhares de habitantes desta
região que terão as suas casas alagadas e que, a essa altura dos acontecimentos
ainda não foram sequer informados sobre para onde serão transferidos, esta não
será uma “alagação mínima”. Nem para as várias pessoas que, como eu, terão o
lindo rio à frente de sua cidade transformado em um lago podre. Nem será uma
“alagação mínima” para as várias espécies de peixes, como o ornamental
acari-zebra, que não ocorrem em nenhum outro lugar do planeta, e que serão
extintas com a destruição das corredeiras da Volta Grande do rio Xingu.
As tais escadas para a piracema de que Wladimir
Pomar fala são uma bobagem, pois não resolvem o problema dos peixes.
Basicamente o que acontece é que peixes de corredeiras, como os grandes bagres,
podem até subir as escadas para piracema, mas ao chegar ao lago acima da
barragem, são imediatamente devorados por predadores de águas paradas como
piranhas, ou simplesmente não resistem à baixa oxigenação das águas do lago, e
morrem. Ninguém é obrigado a saber de tudo e o colunista realmente não
precisaria estar ciente destes fatos ecológicos fundamentais das barragens, nem
sobre a extinção de espécies endêmicas, ou que as barragens nas regiões
tropicais, através da decomposição da vegetação em ambiente anaeróbico produzem
grande quantidade de metano, que contribui imensamente para o aquecimento
global (que é real e a maior ameaça ao futuro da humanidade), tanto quanto
fontes energéticas oriundas de combustíveis fósseis de potência
equivalente.
Mas ele deveria saber que não somos ameaçados de
“apagão” por problemas na geração de energia elétrica, mas pelo sistema de
distribuição que é sucateado, e que as grandes potências capitalistas são as
grandes interessadas na construção de Belo Monte, pois lucrarão duas vezes, com
a venda dos equipamentos para o funcionamento da usina e com a compra de
energia barata na forma de folhas de alumínio, subsidiadas pelo povo brasileiro
que é quem está financiando a construção da barragem através do BNDES. Se Belo
Monte fosse de fato um bom negócio não precisaria ser construída por um
consórcio fundamentalmente estatal, financiado por recursos públicos. Mesmo
deixando de lado os aspectos ambientais, só se defende essa obra faraônica,
destrutiva e desnecessária, por interesses pessoais ou ignorância econômica e
social.
Finalmente, restam ainda os aspectos
político-eleitorais, que desconfio que sejam a motivação fundamental do
referido colunista. Apesar de todo o prejuízo econômico, social e ambiental
trazido por Belo Monte, a obra é uma verdadeira maravilha para as grandes
empreiteiras responsáveis pela sua construção e que foram os grandes
financiadores da campanha da candidata do PT à presidência da República. Como
bem escreveu o leitor João Pedro no espaço de comentários sob o último artigo:
“Você (Wladimir Pomar), como analista político, deveria ter um mínimo de
discernimento para perceber que a sua identificação pessoal com o governo atual
o está impedindo de analisar os fatos corretamente em relação à UHE de Belo
Monte”.
De fato, deve ser duro para um militante histórico
de esquerda reconhecer que o grande projeto da presidente que ajudou a eleger,
do partido que ajudou a criar, é um velho projeto da mesma ditadura militar que
ele ajudou a combater, patrocinado pelo grupo político de José Sarney, que é o
que há de mais atrasado nesse país, atendendo aos interesses do capital
internacional. A alternativa a isso é a ignorância ou o silêncio, das duas a
melhor opção.
Rodolfo Salm, PhD em Ciências Ambientais pela
Universidade de East Anglia, é professor da UFPA (Universidade Federal do Pará)
em Altamira, e faz parte do Painel de Especialistas para a Avaliação
Independente dos Estudos de Impacto Ambiental de Belo Monte.
Sinceramente eu não entendo como uma pessoa tão academicamente laureada pode ser tão ignorante.
Caro Professor Rodolfo: De nada adiantou sua formação acadêmica o senhor não evoluiu o pensamento cultural! Vamos começar com as ditas cujas populações indígenas - Veja professor descendemos todos de uma mistura de raças. Como consequência da colonização de um território ocupado por populações de humanos ainda na idade da pedra lascada. O que acontece quando uma civilização mais avançada tecnologicamente conquista o território? O Chamado aculturamento local pela absorção e convivência com outros costumes e tradições, é lógico! Mas esperar que uma nova nação conviva com a possibilidade de coexistência com outras menos evoluídas no seio do seu território é uma utopia muito trabalhosa! Mas não significa que estas minorias étnicas devam ser aniquiladas física ou culturalmente. Para as minorias étnicas deve ser dado o apoio necessário para a preservação cultural e folclórica mas sem descartar o acesso da modernidade da civilização atual, isto sim é possível e é o que os indígenas norte-americanos e canadenses praticam, pois assim não desaparecerão como identidade cultural e étnica.
Quanto a necessidade da construção na Usina hidrelétrica, o plano estratégico pensado em função dos chamados avanços tecnológicos, o relacionamento disto tudo com a nossa economia de mercado que é capitalista (coisa que os esquerdistas demonizam mas convivem muito bem desfrutando dos seus benefícios), disso tudo o senhor não entende mesmo pois não quer entender.
Como exemplo cito o caso do chamado lago podre - Hidrelétricas não originam lagos podres - Simplesmente não poluem! - Causam impacto ambiental sim! Mas podem ser monitorados e remediados e até em alguns casos controlados (Observe o que se faz e já foi feito nas hidrelétricas do interior de São Paulo por exemplo - construídas há muito tempo sem estudo de impacto ambiental - para não atrapalhar o processo migratório dos peixes), enfim mais uma falácia da sua parte, mas ótimo para uma claque de esquerdistas reacionários.
E o caso de Altamira? O problema de Altamira é um problema de má administração municipal. Já existia muito antes de Belo Monte - Falta aí sim, uma melhor integração dos poderes públicos municipal e estadual e até do setor competente do governo federal, a barragem não tem nada a ver com isso.
Baixa oxigenação dos lagos, prevalências de espécies predatórios, população ribeirinha e campesinas que terão seus territórios inundados e não foram avisados, garantir lucro infinito aos grandes fabricantes de equipamentos capitalistas internacionais, a não comprovação de desenvolvimento social e econômico...Cara isso é discurso de esquerda! Até do gás metano que vai ser gerado e aumentar o aquecimento global...O Professor da USP - Ricardo Felício - Climatologista dos mais respeitados (http://www.youtube.com/watch?v=-pAS_aThirg) já disse é uma mentira!
Eu recomendo ao Senhor Professor Rodolfo que esqueça o seu lado político, pare de tentar doutrinar seus alunos por exemplo, e veja tudo com olhos mais imparciais, negar energia barata a esta região tão pobre este sim é um crime anti-patriótico dos mais graves.
E faltou comentar o motivo do governo investir via BNDES nesta obra: Primeiro é uma estratégia para garantir que a obra não sofra percalços especulatórios. Segundo são recursos nacionais, impedindo a geração de dividas com bancos internacionais. E as grandes empreiteiras estão lá sim e são todas brasileiras e geram muitos empregos para brasileiros. O lucro? Claro elas tem que lucrar sim! É assim que as coisas funcionam no sistema capitalista!