Hoje quero falar sobre fronteiras. Um fato curioso me chamou a atenção recentemente, quando participava de um encontro profissional. O público era composto por 80% de gestores industriais e a questão central era como reter talentos e melhorar os processos de capacitação. Em um dado momento, no intervalo, nas conversas mais informais que acontecem, alguns depoimentos me trouxeram para uma realidade preocupante, já que partiram daqueles que decidem ou autorizam os projetos em educação nas empresas.
“Nosso orçamento de treinamento está totalmente direcionado para os funcionários”
“Optamos por não criar uma universidade corporativa porque demanda muito tempo e investimento e o retorno é a longo prazo”
“Eu acho melhor realizar muitos treinamentos durante o ano, porque você acaba vencendo pela insistência”
“Nós criamos uma equipe muito grande de analistas e consultores. Qualquer demanda que surgir, vai ser atendida rapidamente”
“Quanto mais gente treinando, maiores as chances de melhorar os resultados”
Listei alguns desses depoimentos que ficaram marcados na memória. E o que mais me impressionou é que essas falas saíam naturalmente, com muita segurança. Isso denota o quanto os conceitos ainda estão enraizados no passado recente, em que o foco era treinamento, em sua concepção mais restrita.
É fato que temos avançado muito nas metodologias, práticas, teorias e no ferramental disponível para a prática da educação nas empresas, porém, tenho percebido que esses avanços são mais facilmente percebidos e empregados em poucos cenários. Quando avaliamos resultados de congressos e seminários sobre a temática da educação corporativa, por exemplo, percebemos uma reincidência grande de atores em quase todos eles. Isso é resultado do trabalho daqueles indivíduos que tem falado sobre as inovações, difundido as melhores práticas e seus resultados, sempre buscando criar uma rede para a mudança.
Entretanto, acontecimentos e eventos como os que citei no início do texto descortinam uma realidade bem diferente e carente de, no mínimo, uma grande mudança de atitude. Já temos várias fontes para que gestores e outros envolvidos no trabalho com educação possam se atualizar, buscar conhecimento, sair do comodismo de apenas executar tarefas programadas de treinamento pontual ou uma grade hermética que foi acordada no início do ano.
O que defendo aqui é o despertar para a educação como prática e vivência interdisciplinar e, cujas fronteiras, não estão nas planilhas e em uma ou outra ação pontual. Quando um dos diretores diz que o orçamento de treinamento está totalmente focado nos funcionários, ele perde a oportunidade de atentar para outros atores muito importantes para o seu negócio. Os clientes, a comunidade e os fornecedores, por exemplo, são muito importantes para o sucesso de qualquer empreendimento, uma vez que, na prática, várias etapas do próprio negócio dependem de como a empresa se relaciona ou gerencia o relacionamento com esses públicos. Cada nova oportunidade de relacionamento é, também, momento de reforçar práticas educacionais que agreguem valor à estratégia definida para o negócio.
Um outro gestor na conversa disse que acredita ser melhor aplicar muitos treinamentos, porque assim vencerá pela insistência. Pode até ter seu valor o fato de se aplicar muitos treinamentos, dependendo do segmento da empresa, da dinâmica que o negócio exige e impõe. Mas definir isso como estratégia de educação e esperar simplesmente que os resultados virão pela insistência, para mim, beira à ignorância e à irresponsabilidade com os colaboradores e com o investimento que a empresa faz. Se não há planejamento e uma estratégia de resultados a longo prazo, o dinheiro será jogado no ralo. Os resultados serão muito aquém do investimento feito.
E duas outras opiniões conflitantes também demonstram um grande equívoco. Um diz que contratou muitos analistas e consultores para atenderem a todas as demandas. E o outro diz que não investe na estruturação de uma universidade corporativa porque demanda muito investimento e o retorno é a longo prazo. Não adianta contratar várias pessoas para realizar as atividades relacionadas à educação numa empresa e deixá-las à espera das demandas. Novamente o investimento está sendo feito de forma incorreta. Antes de se contratar uma equipe, é preciso também planejar a estrutura com base em uma lógica de ação e resultados. A educação numa empresa acontece em várias instâncias e momentos e os profissionais precisam trabalhar para criar ambientes propícios de identificação e atendimento de demandas, obedecendo a um fluxo sistematizado e condizente com as necessidades alinhadas na estratégia do negócio.
Já sobre a universidade corporativa, se foi feito um levantamento de custos e constatou-se que estão muito altos para o orçamento da empresa, nada impede que a prática vá sendo mudada aos poucos, mesmo sem ter uma estrutura robusta instalada. A máxima de uma universidade corporativa é exatamente a de sistematizar processos em torno das competências fundamentais para a empresa, seja no que tange os profissionais ou a organização em si. Para trabalhar por essa lógica, a revisão de processos e práticas é um ótimo começo.
De fato, o que concluo dessa experiência, é que muito há para se fazer em termos de informação e conhecimento nessa área de educação nas empresas. Aqueles gestores que ainda não despertaram para as vantagens de se fazer educação estratégica nas suas empresas precisam começar a mudança o quanto antes. A educação não terá fronteiras quando elas deixarem de ser impostas pela falta de informação e conhecimento sobre o mundo de inovação e excelentes práticas que estão disponíveis. E consequentemente as pessoas nas empresas também poderão ir além daquilo que se conhece como seus limites. Educação transforma realidades e ajuda a desenvolver o potencial dos indivíduos.
E você? O que pensa sobre isso?
Ubirajara Neiva
Gestor de Educação Corporativa
Para o treinamento não importa a quantidade. mas é a qualidade que irá determinar o resultado esperado, devendo ser um processo de educação contínuada em busca de maturidade do grupo.
A educação deve confundir-se com o próprio processo de viver.
Gostei muito desta frase deste artigo" Educação transforma realidades e ajuda a desenvolver o potencial dos indivíduos" .
Parabéns