Milton
Santos
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O mundo global visto do lado de
cá, documentário do cineasta brasileiro Sílvio Tendler, discute os problemas da
globalização sob a perspectiva das periferias (seja o terceiro mundo, seja
comunidades carentes). O filme é conduzido por uma entrevista com o geógrafo e
intelectual baiano Milton Santos, gravada quatro meses antes de sua morte.
O cineasta conheceu Milton Santos
em 1995, e desde então tinha planos para filmar o geógrafo. Os anos foram
passando e, somente em 2001, Tendler realizou o que seria a última entrevista
de Milton (que viria a morrer cinco meses depois). Baseado nesse primeiro ponto
de partida o documentário procura explicar, ou até mesmo elucidar, essa tal
Globalização da qual tanto ouvimos falar.
O documentário percorre algumas
trilhas desses caminhos apontados por Milton, vemos movimentos na Bolívia, na
França, México e chegamos ao Brasil, na periferia de Brasília. Em Ceilândia, a
câmera nos mostra pessoas dispostas a mudar as manchetes dos jornais que só
falam da comunidade para retratar a violência local. Adirley Queiroz,
ex-jogador de futebol, hoje cineasta, estudou os textos de Milton e procura
novos caminhos para fugir do 'sistema' ou do Globaritarismo -- termo criado por
Milton Santos para designar a nova ordem mundial.
Globalização Milton Santos
Para o mundo intelectual brasileiro entrou em
encantamento um dos seus principais pensadores. E se encantou em plena
produção, no seu momento mais fértil. Produzia uma crítica à globalização
considerando que a mesma tem sido levada a efeito do ponto de vista do capital
financeiro. Propunha uma outra globalização. Intelectual estudioso do espaço e
do tempo, compreendeu, em seu tempo, o espaço como produção do homem na relação
com a totalidade da natureza e a intermediação da técnica. Técnica que
corresponde a um tempo determinado pela produção dos homens. Homem do seu
tempo, Milton Santos se fez presente em todos os grandes embates intelectuais
da última metade do século passado. O seu tempo e o seu espaço foram o tempo e
o espaço da globalização. Que ele queria que fosse outra. Ou melhor, a outra, a
globalização de todos os excluídos, resgatados em uma sinfonia de humanização.
Milton se fez maestro da paz e da felicidade. Felicidade de todos. Buscou uma
globalização que unisse todas as mulheres e todos os homens, sob égide do
encontro.
Finalmente, utilizando a dialética como referência,
Milton mostra a batalha travada entre a nação passiva e a nação ativa, em uma
transição política que envolve todos os espaços do viver, desde o espaço da
vida cotidiana. A nação ativa, ligada aos interesses da globalização perversa,
nada cria, nada contribui para a formação do mundo da felicidade, ao contrário
da outra nação dita passiva que, a cada momento, cria e recria, em condições
adversas, o novo jeito de produzir o espaço social, mostrando que a atual forma
de globalização não é irreversível e a utopia é pertinente. ” É somente a
partir dessa constatação, fundada na história real do nosso tempo, que se tor:na
possível retomar, de maneira concreta, a ideia de utopia e de projeto.” Desde
esta compreensão, a globalização é um projeto irreversível da humanidade.
Entretanto, não é esta a globalização desejada, e sim uma outra, a de todos.
Délio Mendes é Professor Dr. do Departamento de
Sociologia da Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP