Moradores da Vila Industrial, em Mogi das Cruzes reclamam do forte cheiro de queimado próximo a uma antiga siderúrgica. Eles vivem em uma área onde há pó de carvão no solo, que pode entrar em combustão. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) estipulou prazo até 16 de março para a Prefeitura tomar providências.
A área contaminada da antiga Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes (Cosim) é motivo de preocupação para o comerciante Oscar Pereira. Ele lembra de muitos acidentes que já aconteceram no local por causa das moinhas de carvão e outros resíduos metálicos depositados no solo e no subsolo que estariam sob risco de incêndio. “Aquele fogo no meio do carvão que saía... E é criança, é curioso que ia lá e pisava naquele carvão, chegava a queimar o pé. É uma preocupação para todo o bairro, porque você via o seu filho sair para brincar e criança gosta de andar para o meio do mato”.
O terreno está bem perto da casa da aposentada Sônia Regina do Carmo, que também não suporta mais conviver com o cheiro de queimado. “É gente de fora que joga lixo e vai botando fogo. Com esses dias em que houve um calorão insuportável, o fogo não apagava e começou a vir de baixo. A gente sofreu uma semana sem poder dormir”, reclama.
As queixas dos moradores chegaram até a Cetesb, que acompanha há muito tempo os problemas neste terreno. Segundo o gerente da agência ambiental, a cidade tem 67 áreas contaminadas, entre elas a da antiga Cosim. “Há ali cerca de 46 mil toneladas de moinha, que é o pó de carvão. Esse material entra em combustão e fica assim na parte inferior da área podendo ocorrer de pessoas se acidentarem e se machucarem com queimaduras”, explica Edson Santos
Apesar de algumas medidas, o problema ainda existe e fez com que a Cetesb autuasse a Prefeitura e desse até o dia 16 de março para que algumas providências sejam tomadas. Uma delas é isolar a área, já que fica numa região urbana. “Pedimos a proteção da área para impedir o acesso de pessoas e a ocorrência de acidentes. Também pedimos um estudo de investigação detalhada da área para identificar exatamente onde estão essas áreas com poças de moinha de carvão para removermos este material e resolver este problema em definitivo”, continua Santos.
Impasse judicial
A Prefeitura, apontada como responsável pela área, argumenta que não pode tomar nenhuma providência porque existe um litígio judicial sobre a propriedade de alguns terrenos que pertenciam à antiga Cosim e hoje são de outras empresas particulares. É o que explica o secretário do Verde e do Meio Ambiente, Romildo Campello. “Ali é uma área que foi adquirida pela Prefeitura nos anos 80 e depois vendida para particulares. Há uma discussão de quem de fato é proprietário daquela área. As empresas que compraram entraram na Justiça para ter de volta a posse dessa área. Nós temos um papel a ser exercido na parte judicial para definir claramente de quem é esta área. E também temos a segunda parte, que é a questão ambiental, que é o aprofundamento dos estudos que nós já fizemos. É preciso definir qual é o espaço da Prefeitura e os estudos que devem ser feitos ali.”
O secretário afirmou ainda que as áreas que precisam ser cercadas são justamente as que seriam de empresas particulares. A Prefeitura vai enviar documentação para a Cetesb sobre os caso. Sobre as outras áreas contaminadas, a Prefeitura informou que acompanha, mas que a maioria pertence a postos de combustíveis.
Enquanto nenhuma atitude é tomada, a moradora Marli Ferreira diz que teme perder clientes, já que ela trabalha como lavadeira há mais de dez anos e tem muita gente reclamando que as roupas ficam com mau-cheiro por causa da fumaça que sai da área contaminada. “O cheiro impregna na roupa e cai uma poeira que suja todo o quintal. Já me devolveram duas vezes a roupa porque estava cheirando a fogão de lenha”, reclama.
(Fonte: G1 – 07/03/2014)