As regiões da cidade que são abastecidas com água do Sistema Cantareira serão divididas em seis blocos menores, nos quais será implementado um sistema de rodízio no fornecimento
13 de março de 2014 | 18h 35
Herton Escobar - O Estado de S. Paulo
Cerca de 850 mil pessoas serão afetadas diretamente pela redução do volume de água fornecido pela Sabesp ao município de Guarulhos, que terá de implementar um sistema de racionamento em grande parte da cidade para compensar a perda de recursos hídricos imposta pela empresa.
O anúncio foi feito na tarde desta quinta-feira, 13, em entrevista coletiva, pelo diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Guarulhos, Afrânio de Paula Sobrinho. Segundo ele, as regiões da cidade que são abastecidas com água do Sistema Cantareira serão divididas em seis blocos menores, nos quais será implementado um sistema de rodízio no fornecimento. Dois blocos receberão água dia sim, dia não; enquanto que outros quatro ficarão um dia sem água a cada três.
Os nomes dos bairros afetados e a agenda do rodízio serão anunciados nos próximos dias. O fornecimento de água do sistema Cantareira para o município será reduzido pela Sabesp em 15,5%, gradativamente, até segunda-feira, conforme anunciado hoje pela empresa – da qual Guarulhos compra água no atacado, por cerca de R$ 100 milhões ao ano. O volume fornecido será reduzido dos atuais 4 mil litros por segundo para 3.610 litros por segundo (redução de 390 l/s). “Vamos ter de dividir essa água que sobrou”, disse Sobrinho. Cerca de 62% da população de Guarulhos (de aproximadamente 1,4 milhão de pessoas) é abastecida com água comprada do sistema Cantareira.
Sobrinho criticou duramente a maneira como a Sabesp e o governo do Estado estão lidando com a situação. Ele disse que só foi informado do corte na terça-feira à tarde, e questionou o fato de Guarulhos ser o único município penalizado com redução no fornecimento. “Não sou contra a medida; só estou defendendo que ela seja estendida a todos. Por que só Guarulhos? Nós fomos o primeiro município a aderir à campanha (de redução de consumo) da Sabesp, e agora estamos sendo rotulados de insensíveis”, disse. “Nós vivemos uma demanda reprimida há muitos anos; já economizamos água há muito tempo. Como é que querem tirar mais água de quem já não tem?”
Em nota divulgada nesta quinta pela Sabesp, a empresa compara Guarulhos a São Caetano do Sul (duas cidades da Grande São Paulo que compram água no atacado), dizendo a segunda conseguiu reduzir seu consumo em 100 litros por segundo (de 550 para 460 l/s; uma economia de 18%) desde o início de fevereiro, e por isso seu fornecimento de água não seria alterado; enquanto que Guarulhos teria reduzido seu consumo em apenas 2%.
“Comparar São Caetano e Guarulhos, com todo respeito, é muita falta de conhecimento sobre duas realidades totalmente distintas”, disse Sobrinho, ressaltando que São Caetano do Sul tem 150 mil habitantes (cerca de 10% da população de Guarulhos) “e não tem favela”. Ele disse que não tem números ainda para dizer quanto a cidade reduziu seu consumo no último mês – desde o lançamento da campanha de redução –, e que não sabe de onde saiu a estatística de 2% divulgada pela Sabesp. Ele especula, porém, que o consumo total do município tenha se mantido relativamente estável, por conta de uma possível “migração” do consumo de bairros com melhor abastecimento para outros onde há um escassez crônica de água já há muito tempo.
Sobrinho disse que está na hora de o governo do Estado ser transparente com a população e parar de dizer que não há racionamento de água. “Se não há racionamento, que nome você dá ao que está acontecendo aqui em Guarulhos?”, questionou. Seis bairros do município já passam por racionamento há um mês, segundo ele, afetando o abastecimento de 200 mil pessoas.
Fonte: Estadão