Predadores montados em suas máquinas atacam suas
presas em situações mais dramáticas, não dando chance para fuga. E o sofrimento
das famílias velando e sepultando ou cuidando dos cadeirantes, dos
incapacitados definitivamente para o trabalho. Enquanto ocorre a eternização da
dor, o governo parece transitar na contramão dessas vidas.
Dr. Dirceu
Rodrigues Alves Jr.
Estamos
evoluindo no quinto ano da década de redução dos óbitos no trânsito. Dados do
DPVAT mostram espelhos estatísticos que não sensibilizam a população e tão pouco
órgãos governamentais.
O país
continua perdendo jovens saudáveis, produtivos e o IBGE informa que o
crescimento da população brasileira foi de 5%. Mão de obra nobre sendo perdida
com mortes e incapacidades definitivas para o trabalho.
Até setembro
de 2014 o DPVAT pagou 430,3 mil indenizações por invalidez permanente, aumento
de 160% em relação a 2010.
Por dia,
1.576 pessoas são mutiladas nesse país, 66 por hora.
O total de
indenizações pagas chegou a 559.123 com aumento de 118 %.
Essa é a
principal doença epidêmica para a qual não se encontra uma vacina. Famílias no
desamparo, inconformadas, sem estrutura para se reerguer, pedem justiça.
Os
Ministérios das Cidades, dos Transportes, da Saúde, da Justiça e outros parecem
alheios à propagação da maldita doença do trânsito.
Conter tudo
isso em curto prazo é intensificar a fiscalização acompanhada de multas e
punições severas. Medidas essas de fácil aplicação e de retorno imediato.
Com a
redução de 50% proposta pela ONU não vislumbramos sucesso já que no meio da
década só vemos aumento geométrico e condutas ineficazes.
Não se
implanta a necessidade básica para mudança da cultura da população brasileira
com relação à mobilidade humana. Está previsto no Código de Trânsito
Brasileiro, que data de 1998, a educação de trânsito desde a pré-escola até os
18 anos.
O
ensinamento teórico não tem que ser decorado para fazer a prova, essa pedagogia
levará em curto prazo o não entendimento e esquecimento.
A formação
do condutor não é compatível para quem vai conduzir uma máquina extremamente
perigosa, onde ao lado e em sentido contrário transitam outras, como se não bastasse
entre essas máquinas transita o ser humano. Hoje, julga-se necessário apenas 20
ou 25 horas como se a máquina sobre rodas fosse o brinquedo maior do adulto. Na
formação do condutor na Austrália são gastas 120 horas. Será que dirigir a 30
ou 40 km por hora, subir um aclive e não deixar o veículo recuar e fazer uma
baliza é o suficiente para o “Estado” conceder a Carteira Nacional de
Habilitação?
É ensinado
apenas fazer o carro e a moto andar. E as situações de risco, a prática da
direção defensiva e evasiva, chuva, neblina, dia, noite, rodovias,
ultrapassagens de veículos longos, frenagem com desvio de obstáculos e vai por
aí. Ampliar conhecimentos colocando-os em pratica é a necessidade maior.
Quando nos
voltamos para a motocicleta à coisa se resume a andar em primeira marcha e
manter o equilíbrio, tudo num circuito fechado.
Qual será a
qualidade desses operadores de máquinas perigosas?
Além disso,
recebida a CNH, são esgotados ensinamentos, nunca mais voltamos para um
treinamento, avaliação de possíveis condutas irregulares, vícios adquiridos,
conhecimento de novas legislações e outras
alterações complementares.
A educação
continuada é uma necessidade. A tecnologia avança a passos largos, os veículos
são modificados a cada ano, não podemos passar ao vendedor a responsabilidade
de fazer um “Teste Drive” e indicar para que servem os acessórios no painel.
Dentro das
fábricas, com máquinas fixas ao solo, o Ministério do Trabalho exige
treinamento, controle, fiscalização, prevenção, uso de equipamentos de
segurança e tudo mais que não é proposto para as máquinas que transitam nas
áreas urbanas e rodovias.
Estamos
longe para conseguirmos sair desse nefasto terceiro lugar no rank mundial de
mortes no trânsito.
Enquanto
isso, famílias desoladas, em sofrimento eterno, conduzindo seus parentes com
sequelas graves para hospitais, cirurgias, fisioterapia. Outras velando e
sepultando seus entes queridos.
O sofrimento
se eterniza, o orçamento da família desaba, necessidades serão passadas, apoio
nenhum será ofertado.
Longe disso,
o agente causador de todo esse sofrimento, paga uma fiança e se condenado, paga
algumas cestas básicas ou presta algum serviço à comunidade.
Dr. Dirceu
Rodrigues Alves Júnior
Diretor de Comunicação e do Departamento de
Medicina Ocupacional da
ABRAMET
Associação Brasileira de
Medicina de Tráfego
dirceu.rodrigues5@terra.com.br