* Dirceu Rodrigues Alves
Cuidar bem da saúde dos condutores é garantir o mais importante patrimônio do negócio.
Patologias físicas, psicológicas e até transtornos comportamentais e sociais fazem parte do dia a dia do motorista de um veículo leve, médio ou pesado no nosso transporte. Dependendo da rota, das condições do veículo e da qualidade do trânsito, o potencial de risco supera a barreira da insalubridade e da periculosidade, chegando à categoria que qualificamos como penosidade. Ou seja, a rotina diária assume contornos de uma verdadeira penitência, chegando ao limite do esgotamento físico e mental. Isso é tudo que nós especialistas apregoamos buscando melhorar a qualidade de vida no trabalhodo do conductor.
O alto risco justifica o porquê das empresas de transporte serem obrigadas a constituir o SESMT. É a sigla para Serviço de Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho, uma equipe de profissionais, que fica dentro das empresas para proteger a saúde e a integridade física dos trabalhadores. A equipe responde pela elaboração do PPRA -Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais- documento que mapeia o potencial de risco de cada atividade. No caso, um técnico faz todo o trajeto de determinada rota para fazer o levantamento dos pontos críticos que podem comprometer a saúde do trabalhador com relação aos aspectos físicos, químicos, ergonômicos e biológicos.
Esses indicadores permitem ao médico do trabalho ou médico de tráfego responsável pela operação avaliar como está evoluindo a saúde ocupacional da equipe. Só o médico, contando com o apoio de engenheiros e técnicos de segurança, psicólogos e fisioterapeutas, pode propor um plano de mitigação de riscos à saúde dos trabalhadores, considerando as patologias físicas (incluindo as lesões por esforço repetitivo e chegando até ao risco de doenças graves como o câncer ou a perda incapacitante da audição, por exemplo), psicológicas (agravadas pelo estado de apreensão constante diante de ameaças iminentes como assaltos, acidentes, agressões, sequestros) e sociais, por passar tanto tempo distante da família e das atividades pessoais.

A equipe liderada pelo médico, com o envolvimento da área de recursos humanos e de outros profissionais como engenheiros de segurança, pode inclusive colaborar com a manutenção da frota, recomendando reforços em áreas emborrachadas, de forma a reduzir a vibração, e até propor melhorias do ponto de vista térmico, acústico e no sistema de escapamento, o que acaba beneficiando também os passageiros.
O SESMET precisa também deixar o prédio administrativo e seguir os trajetos percorridos para complementar não só o PPRA, mas periciar acidentes envolvendo sua frota para atuar de maneira significativa na profilaxia dos mesmos.
Empresas comprometidas com a saúde de seus empregados têm conseguido progressos interessantes na melhoria do ambiente, da qualidade do trabalho e da qualidade de vida do condutor. Muitas investem em programas de ginástica laboral com ótimos resultados, divididos em três categorias, pré-laboral, trans-laboral e pós-laboral. O programa prepara o condutor para o início da primeira viagem, propõe exercícios para serem feitos periodicamente nas pausas do trajeto e ainda recomenda uma sessão ao fim da jornada. Costumamos dizer que todo motorista precisa de bom condicionamento físico evitando dessa forma as queixas de dores musculares e articulares.
O custo de uma conduta preventiva é infinitamente menor do que o alto custo da improdutividade, do absenteísmo, da incapacidade definitiva e da baixa qualidade do serviço. Uma empresa séria e bem orientada, que enxerga o profissional do volante como o maior patrimônio do seu negócio, sabe que sem ele nada funciona, nada sai do lugar. Significa que a possibilidade de melhorar continuamente não depende apenas de carros novos e nem de alta tecnologia, mas tem o elemento humano como fator central e essencial.
*Dr. Dirceu Rodrigues Alves é Diretor de Comunicação e chefe do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da Abramet - Associação Brasileira de Medicina de Tráfego