Parece haver desinteresse em
proteger os mais frágeis no trânsito. Não se vê atitudes
continuadas das autoridades para preservar a vida impedindo o
aparecimento de problemas
econômico
social que vão recair sobre as famílias e o próprio governo.
Dr. Dirceu Rodrigues ALVES
São mutilados e outros lesionados que chegam aos prontos
socorros muitos sem possibilidade de recuperação que evoluem para óbito. Outros
com incapacidades temporária ou definitiva passando a cadeirantes ou
dependentes de cuidados de enfermagem permanente.
É sofrimento para todos nós. Sair de uma UTI como
profissional de saúde para informar a família à evolução desfavorável de um
acidentado de trânsito e mais tarde informar sobre o óbito, é triste, muito
triste para aqueles que pretendem preservar vidas. Pior, não havia uma doença
em evolução, era um indivíduo que subitamente foi transformado na via pública
num doente. E para isso, não é tomada nenhuma medida cautelar. São manchetes da
mídia todos os dias. Ninguém tenta transformar o pedestre em um usuário da
mobilidade segura.
A proteção maior, de longa data, parece direcionada para os
veículos médios e pesados. Após isso, faixas exclusivas foram intensificadas
para proteção dos motociclistas, mas já foram interrompidas passando a ser prioridade
construção de ciclo faixas para proteção dos ciclistas.
E os pedestres, quando terão a atenção permanente dos municípios
para uma mobilidade segura?
Este gráfico mostra
óbitos de pedestres ocorridos na cidade de São Paulo no período de 2005 a 2014.
Em nove anos houve uma queda de 7,4%, o que significa 0,8%
ao ano. Valores muito a baixo do que pretendemos na atualidade.
Calçadas esburacadas, postes de iluminação e sinalização no
caminho, árvores, degraus, obstáculos os mais variados impedem um transitar
seguro para o nosso pedestre e nosso deficiente físico. Mas não é só isso, guia
ou meio-fio com pequena altura permitindo com facilidade a subida de um veículo
à calçada. Faz-se lei para garantir um estacionamento privativo para os
deficientes, mas não se obriga ou fiscaliza um transitar seguro para um
cadeirante.
Locais de concentração de pessoas, como nos grandes
cruzamentos, pontos de ônibus, curvas perigosas, locais de risco não podem
deixar tão expostos àqueles mais frágeis. O perigo de queda pelas
irregularidades, o estreitamento da calçada ou ausência da mesma, a necessidade
de caminhar pela rua para desviar dos obstáculos mostram o desinteresse dos
governantes em querer proteger a vida daqueles que deambulam pelas vias.
Campanhas são iniciadas e logo findam. Leis são aprovadas,
mas não são cumpridas e tão pouco fiscalizadas. O foco da proteção é direcionado
para aqueles que estão sobre rodas. Os sem rodas estão suscetíveis às múltiplas
agressões de tudo que citamos e ainda submetidos a intenso ruído e caminhar
respirando gases vapores, poeiras e fuligens.
Interessante é que o motorista, motociclista, ciclista
quando estacionam seus veículos e descem passam a condição de pedestre. Quando
estão na direção reclamam e rejeitam o pedestre e quando são pedestres reprovam
as atitudes dos que estão sobre rodas. Os focos são divergentes, não há
consciência de que todos são frágeis e precisam ser respeitados e protegidos.
Será que não estamos tendo a visão global para proteger todos,
começando pelos mais frágeis?
Precisamos de atitudes para preservar vidas instalando
gradis com elevação das guias nos cruzamentos perigosos, onde há concentração
de pessoas como nas paradas de ônibus, correção dos pisos, alargamento das
calçadas, mais passarelas ou túneis, desobstruir trajetos e tudo mais.
Temos observado a crescente chegada aos prontos socorros
desses pedestres com lesões graves, gravíssimas quando transitam nas calçadas e
nas esquinas dos grandes centros.
A desobediência e a falta de conhecimento das regras de
trânsito são outros motivos para reprovarmos atitudes governamentais que não
são tomadas com relação à ausência de educação de trânsito, fiscalização,
reformas de calçadas e criação de alternativas para conter as agressões que se
vê na via pública.
É a
ABRAMET querendo proteger vidas.
Dr. Dirceu Rodrigues Alves
Diretor de Comunicação e Chefe do Departamento de Medicina
de Tráfego Ocupacional da
ABRAMET
Associação
Brasileira de Medicina de Tráfego